terça-feira, setembro 09, 2014

De pé





Na linha do piquete são os primeiros,
na madrugada fria enfrentaram cacetetes
levantaram suas bandeiras
e cantaram, com fúria, inalando o gás espesso
olhos vermelhos, ardendo, a lacrimejar.

Longas reuniões, jornais, livros,
a teoria, o estudo, a estratégia
que se tornam a carne viva da batalha
do áspero choque entre as classes
o embate parteiro do futuro.

Cansaço, dores, doenças.
Gastando o sossego do inimigo
desesperado, toma teu salário, 
toma tuas bandeiras, 
toma teu companheiro e mete entre as grades.
Em rios de tinta ele esbraveja
te difama, te ameaça, te acusa dos crimes que foi ele quem cometeu.

Em vão. Seus piquetes desfeitos logo se reerguem.
Dos trapos fez novas bandeiras,
e seus jornais continuam passando de mão em mão,
gritando contra as mentiras de ontem.

Dizem que sua luta é contra o povo.
Mas sua mão generosa estendida está visível,
lutando por tudo o que eles negaram ao povo.

Ergueram contra sua luta paredes de leis,
a sapiência dos livros, a sagrada constituição,
mas sua luta é mais forte do que as leis,
e sua persistência muda as cláusulas pétreas.

Não arrega. 
O desespero e o suor transparecem nas janelas das torres,
a um passo firme de distância está a vitória.
Os ferimentos, por certo, existirão.
São duros, profundos. 
O inimigo lacerou tua carne.

Não importa, porque o mais valioso ele não pôde levar.
O seu tesouro é a história que fica, as marcas,
a certeza de que, enfim, pode se levantar,
e ao estender as mãos encontrará seus pares,
ombro a ombro, prontos a se erguer,
a perder de vista, a romper fronteiras.

Ali ao lado, os inimigos também tremem.
Tomam-lhe as fábricas, tomam-lhe as noites, tomam-lhe os lucros.
Nossos irmãos estão feridos, como nós.
Mas lutam. Tal qual os guerreiros negros que nos ensinaram,
junto com a história de nossa classe,
que a história não é dos que arregam.
Mas dos que sabem que todo futuro só é impossível
enquanto acreditarmos que ele seja.

Não esquece de sonhar.

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