segunda-feira, novembro 21, 2005

Pois bem, veja que beleza:

O professor de orçamento do meu pai, no MBA de administração hospitalar, estava falando sobre lucros. Ele estava discorrendo sobre empresas que investem no setor público e a lucratividade disso. Em geral, ele explicou, o lucro gira em torno de 20% ao ano. No entanto, ele começou a pesquisar um determinado setor: Transportes públicos. Ora, vejam a surpresa quando, eis que o senhor doutor da FGV descobre o seguinte: o retorno das empresas deste setor superaria os 100% anuais caso eles cobrassem uma tarifa de R$ 0,50. No entanto, o que constatamos é que não há tarifa que não custe três vezes este valor no sul e sudeste do país.
Logo, penso eu, seria de grande valia tal pesquisa para fundamentar certos argumentos muito úteis na nossa vida. Infelizmente um fato peculiar impede a conclusão da pesquisa do Prof. Dr: Ele recebe algumas ligações de novos amigos perguntando se ele estava interessado em falecer e, caso não estivesse, seria saudável pesquisar outras coisas por aí.

Já que não temos acesso à pesquisa, fica aí o relato do episódio como uma reflexão do dia.

sábado, novembro 19, 2005

Harlequim recomenda:

A Morta, peça do Oswald de Andrade do caralho. Um grupo muito bacana que tá apresentando, só dez reais a entrada.
Sexta e sábado às 21:00. É lá em Pinheiros, naquela rua que é uma travessa da Inácio pereira da Rocha e sai ali perto do Sacolão. O endereço é Rua Medeiros de Albuquerque 55.
Mas só fica em cartaz até 3 de Dezembro.
Vale a pena ir, de verdade.

sábado, novembro 12, 2005

A hora das quatro me consome a vida, indiferente.
O vagar dos dias dissolve o sentido, qualquer que seja, daqueles cantos onde um dia enxergara reflexos da sua alma. Empalidecido, desgastado. Agora os dias eram foscos, e os caminhos, não importando onde fossem, já não eram dos pés de alguém que conhecesse. Amor, amizade e as outras palavras da mesquinha língua dos homens haviam se desgastado e perdido o clamor que a ingenuidade lhes conferira um dia. Embebidas da artificialidade que, esta sim, fulgurava em sua essência, nada mais comunicavam. Palavras, pensamentos, dias. Os olhos, quem dera tivessem se perfurado antes, com a intensidade que latejava em tudo: das asas de uma borboleta estúpida ao branco rígido do rigor mortis.
A alegria, outra das palavras prontas e estéreis, esta a achava em pequenos acontecimentos sem significado algum. Apenas por um momento, se vestiam com um sentido que parecia recriar algo que já nem mesmo sabia o que era. E, em alguns segundos, tentava ao menos se agarrar na nostalgia, pois lhe vagava pela mente anestesiada a tênue e ridícula impressão de que um dia já soube porque vivera tanto.
Nas manhãs havia o espelho. As imagens físicas não eram como a das palavras, idéias, sentimentos e sentidos: elas não se alteravam, exceto por esforço do tempo que as corroia. Era apenas o sentido que as recheava que se alterava conforme o ser olhante.
Tudo que um dia houvera havia se tornado sombras. Vivia ainda, quem sabe no porvir de vislumbres.