quinta-feira, novembro 01, 2012

Na São Remo, o genocídio. Na imprensa, a hipocrisia


A polícia mais assassina do mundo e a política de militarização dos governos do PT e PSDB 

A Polícia Militar de São Paulo já ficou internacionalmente famosa por ser a segunda polícia mais assassina do mundo (a primeira é a do Rio de Janeiro!). Contudo, o que ela fazia antes empalideceu diante de sua atuação recente. A mídia, afoita, noticia dia e noite as mortes de policiais, mas omite números como o de que para cada policial morto, 41 civis são assassinados pela policia no Rio de Janeiro, isso no ano de 2007. Hoje, do jeito que a polícia de São Paulo está, esta proporção deve ser ainda maior. Por isso, quando se fala de "guerra civil", está se cometendo um equívoco: trata-se de genocídio sistemático de uma população que tem renda e cor: são os negros e pobres da periferia de São Paulo.

A operação saturação em Paraisópolis, que sitiou a favela com 600 policiais e o abuso sistemático de todos os direitos dos moradores, agora conta com um reforço de peso: a vitória de Haddad em São Paulo trouxe imediatamente a atenção do governo Dilma para fazer de São Paulo o novo foco de sua política de militarização das favelas com as UPPs, botando as forças de segurança nacional para reprimir cotidianamente os moradores. Dilma quer militarizar a Paraisópolis! 

Os moradores da São Remo que construíram e mantém a USP são atacados pela reitoria e o governo

Aqui ao lado da USP, na São Remo, onde moram muitos dos trabalhadores da universidade - e particularmente os que ocupam os trabalhos mais precarizados, os terceirizados - a situação é escandalosa. A história da favela da São Remo e do campus Butantã da USP estão umbilicalmente ligadas, pois aquela começou a ser erguida justamente pelos trabalhadores que construíram os prédios da universidade. Situada em um terreno que oficialmente pertence à universidade, não foi sem muita luta, contando inclusive com o importante apoio dos trabalhadores da USP, que os moradores da São Remo conseguiram se manter ali. Foi também graças à sua mobilização, ao lado dos moradores de outras partes do Butantã, Rio Pequeno etc, que se construiu o Hospital Universitário da USP (que, diga-se de passagem, a reitoria tem planos de privatizar através de uma OS, um tipo de privatização que Haddad apoiou enfaticamente em sua campanha). A universidade cresceu, as condições de emprego se precarizaram: implementou-se a terceirização na universidade, com trabalhadores que não tem acesso a direitos trabalhistas elementares. Um deles, o vale transporte. 

Muitas empresas contratam apenas pessoas que morem num raio de até dez quilômetros da universidade, pois assim não pagam o vale. Claro, há trabalhadores terceirizados que se deslocam de pontos extremos da cidade para a USP, e que são ainda obrigados a falsificar seu endereço para trabalhar em condições absurdas. Também por isso, são centenas os trabalhadores terceirizados da universidade que vêm das favelas da região: favela do jaguaré, Vila Dalva, São Remo... Muitos destes trabalhadores contavam com o circular como o único auxílio que tinham para se transportar até seus locais de trabalho. Rodas, com uma canetada, cortou os circulares e privatizou o sistema de transporte da USP através da implementação do BUSP (o transporte é feito pela SPTrans através das empresas privadas concessionárias e a "comunidade USP", da qual a reitoria faz questão de excluir os terceirizados, pode andar mediante o uso de um bilhete especial). Assim, da noite para o dia todos os terceirizados perderam o direito de andar de circular e ganharam alguns quilômetros a mais em seus trajetos diários. Isto representou também um outro ataque, pois os motoristas dos circulares foram desviados de sua função, e este cargo está extinto na universidade em nome da privatização. Para calar os estudantes diante disso, a reitoria estendeu o trajeto até o metrô (sendo que a própria reitoria vetou o projeto original do metrô que previa duas estações dentro do campus! Uma na Praça do Relógio e outra no HU).

Os trabalhadores terceirizados e moradores da São Remo já não tem direito a nada na universidade: não podem usar o CEPEUSP, as bibliotecas, nem sequer comer no bandejão. Apesar de terem construído a universidade e fazerem ela funcionar a cada dia, a universidade elitista e racista simplesmente os classifica como "elementos estranhos" (lembremos que um dos fundamentos para a demissão inconstitucional de Brandão, diretor do Sintusp, em 2008, foi ter defendido estes "elementos estranhos" à USP em suas mobilizações contra atraso de salários e direitos, uma das marcas inconfundíveis destas empresas parasitas na universidade). As humilhações e abusos a que estão submetidos estes trabalhadores cotidianamente foram escancaradas na greve da União em 2011.

Contudo, a reitoria não considera o suficiente manter esta semiescravidão para galgar os degraus dos rançosos e meritocráticos rankings internacionais: decidiram que era necessário tirá-los de suas casas, afinal, pega mal para uma universidade de excelência que todos vejam a pobreza e exploração sobre a qual ela se sustenta bem ali, a olhos vistos, colada no muro da universidade. Então veio o projeto de "reurbanização" da São Remo, que pretende desalojar todo mundo e fazer uma coisa, assim, mais USP pra ficar ali, né?

Nem todos sabem, mas a remoção já começou aos poucos! Com duzentas casas removidas, os moradores recebem um "auxílio" de 300 reais (como eu queria ver o Rodas morar com este dinheiro!). A resistência, por outro lado, também já está de pé, com o Sintusp e a Associação de Moradores da São Remo na linha de frente.

São Remo militarizada e a campanha reacionária da imprensa

Sob o pretexto do assassinato de um soldado da Rota, a polícia está mantendo um verdadeiro estado de sítio. De estudantes da  universidade que dão aulas nas escolas ao redor da USP, já soubemos de alguns casos de jovens, alunos seus, assassinados. Em geral, o único motivo é estarem na rua após o horário permitido pelo toque de recolher. O boletim do Sintusp de hoje noticia: "Uma companheira, funcionária da USP, que teve sua porta arrombada pelos coturnos dos soldados, pediu o mandato judicial e recebeu dois tapas no rosto de um policial que gritava: "está aqui!". Em várias outras casas, os policiais quebraram móveis, eletrodomésticos e, quando os moradores protestaram dizendo que eram trabalhadores, ouviram dos policiais que quem mora na favela e não paga IPTU é bandido"

Esta situação já perdura há semanas, mas agora se agravou muito com a ocupação das polícias civil e militar. Agora, a mídia está em polvorosa com sua campanha reacionária, em que unifica os "maconheiros da USP" com os "traficantes da São Remo" e clama histericamente pela polícia para reprimir ambos. Este artigo   de Dennis de Oliveira mostra bem a postura da mídia diante da São Remo. Os estudantes da USP, que no ano passado travaram uma luta exemplar contra a polícia, não podem se calar diante deste absurdo! Ontem, os estudantes da Letras começaram a dar uma resposta. Agora, é fundamental que cada estudante e cada entidade passem a construir a reunião de segunda-feira, às 16h, no Sintusp, em que estará presente a Associação de Moradores da São Remo, para podermos organizar uma resposta unificada e à altura da repressão policial que está ocorrendo! Todo apoio aos moradores da São Remo!