quarta-feira, janeiro 27, 2010

Uma bela cerimônia!

Segunda-feira, feriadão.
Lá vamos nós pra porta da Sala São Paulo. Lá dentro uma pomposa cerimônia: Kassab e outros distintos membros da honrada elite paulistana condecoram o novo autocrata da USP, João Grandino Rodas. Teve até um culto ecumênico! Juro! O cara foi literalmente abençoado por líderes religiosos para sua louvável tarefa de dirigir o centro nervoso da intelectualidade paulistana, a universidade mais elitista, racista, conservadora do Brasil.
E do lado de fora, mais de cem manifestantes tomavam chuva, com faixas, cartazes, palavras de ordem. Contra Rodas e contra Kassab e suas enchentes e aumentos de passagem. Numa das faixas do Movimento A Plenos Pulmões dizíamos: Rodas, ontem com a ditadura militar, hoje com a ditadura universitária.
Exagero?
Vejamos: Rodas participou de julgamentos responsáveis por aferir a responsabilidade do Estado brasileiro em casos de morte e tortura no período da ditadura. Trabalhou arduamente para jogar para baixo do tapete alguns dos mais brutais crimes políticos ocorridos na história recente do país. Votou, para ficar em um exemplo só, pela isenção de responsabilidade do Estado no julgamento do assassinato da estilista Zuzu Angel, cujo assassinato pelos milicos já foi retratado até em filme-novelão.
Quando presidente do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), foi responsãvel por permitir a criação da AmBev, criando um monstruoso monopólio no Brasil.
Listar todos seus podres é uma tarefa de titãs, que eu não tenho condições de cumprir agora. Mas acho que ainda vale contar um pouco do que já fez na USP, como diretor da Faculdade de Direito, mais conhecida como SanFran. Foi ele o responsável, em 2007, por meter a tropa de choque dentro da faculdade, para prender e reprimir um protesto de diversos movimentos sociais que consistia em uma "ocupação simbólica" de 24 horas do Largo São Francisco. Tinha criança, velhinho, estudante, sem terra. Meteu a PM lá dentro e disse à imprensa que era para garantir a "segurança do patrimônio" da universidade. Em 2008, propôs e obteve aprovação, no Conselho Universitário (o CU, denominado pela USP de CO, sua instância máxima de deliberação) uma resolução que recomendava o uso de força policial para reprimir manifestações dos trabalhadores e estudantes quando "necessário".
Assumiu a reitoria sem obter aprovação nem mesmo no CO, tendo sido indicado pelo abutre-mor Serra para ocupar o posto. Vem com um discurso pra lá de demagógico e hipócrita de diálogo, de acabar com a intransigência. Não resiste à menor prova dos fatos.
Foi já nesta segunda-feira que tomamos porrada na cabeça, sem que nem pra quê. A gente já vê quando Rodas acha necessário reprimir manifestações com uso da polícia: sempre. Se cem pessoas cantando na chuva e protestando já motivo pra meter bronca, imagina o que vai ser este ano na USP. Foram diversos feridos, um deles saiu com a cabeça banhada em sangue direto pro hospital. Três presos. Bombas, cacetetes, escudos, capacetes. Contra manifestantes desarmados.

Boa sorte para nós. Vai ser preciso pra enfrentar o novo magnífico Reitor e sua vasta tradição de "diálogo" na base do cacete.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Afogando o povo


Mais nove vítimas na região metropolitana de São Paulo:
No grajaú, um casal e sua filha de dez anos soterrados; na pompéia, um velho de 75 anos no desabamento de sua casa; em Mauá e Santo André, mais dois deslizamentos; em Ribeirão Pires, duas crianças e sua mãe soterrados.
Ontem a polícia reprimiu duas manifestações, no Jd. Lucélia e em Rio Bonito, da população revoltada com a situação em que se encontram. No Jd. Lucélia, no ano passado, uma parcela da população foi expulsa pela prefeitura para as obras de canalização de um córrego. Jogadas para fora de suas casas com uma "indenização" de cinco mil. Eu adoraria ver o filho da puta do Kassab se virar pra arranjar um lugar pra morar com cinco mil.
Quem ficou ali viu as consequências da obra que a prefeitura iniciou: nas recentes chuvas, casas que nunca sofreram problemas foram completamente inundadas. Chamados, os bombeiros nunca vieram. A ajuda que a prefeitura prometeu depois de um protesto nunca chegou.
Em Dezembro assistimos a população pobre da Zona Leste, em especial do Jardim Pantanal, sofrer as consequências de uma inundação sem precedentes. As "autoridades competentes" nos empurram a mesma cantilena de sempre: estão fazendo "de tudo" para impedir novas enchentes e "ajudar" a população atingida. Afinal, quem pode controlar as chuvas? Sem dúvida não é o prefeito, então culpem São Pedro, culpem o acaso, culpem qualquer um, menos quem controla a cidade: é uma fatalidade incontrolável.
Então, vejamos: fora o evidente fato de que só sofrem os deslizamentos e desabamentos aqueles que são obrigados a morar em condições precárias e em áreas de risco por conta da situação econômica a que, não por acaso, estão submetidos, vejamos o que os isentos governantes fizeram. No dia 8 de Dezembro todas as comportas da barragem da Penha foram fechadas, contribuindo decisivamente para o alagamento na Zona Leste. Por que elas foram fechadas? Para impedir o alagamento das marginais. Ora, o que são alguns pobres a mais morrendo lá no Jardim Pantanal?
Uma fatalidade, sem dúvida, incontrolável...

Saca só um gostinho da PM batendo na galera:
http://bit.ly/8QRUJY

Blog da campanha de solidariedade ao povo do Haiti

http://solidariedadeaohaiti.blogspot.com/?zx=bbe4a64881993a6d

http://www.youtube.com/watch?v=dS1Scrf8lHs

terça-feira, janeiro 19, 2010

Haiti: a heróica luta de um povo oprimido



Há muito blá, blá, blá por aí sobre o Haiti. É só ligar qualquer canal de TV, sintonizar qualquer estação de rádio para ver a farsa montada: o melodrama sensacionalista que a mídia burguesa faz sobre a tragédia de um povo. Concomitantemente, se abafa de maneira escandalosa as causas deste sofrimento pelo qual os haitianos passam hoje, montando um cenário imaginário em que se trata apenas de uma "catástrofe natural". Mas a coisa é tão gritante que mesmo nas arestas dos grandes monopólios da comunicação vemos algumas vozes que resgatam a exploração secular que se abate sobre os haitianos, como é o caso do texto de um professor e um estudante da Unicamp (militante do PSTU) que saiu na Folha.
Durante a greve da USP no ano passado tive a oportunidade de participar de uma atividade organizada pela Conlutas e pelo Comando de Greve dos trabalhadores e ouvir o relato de Didier Dominique, um militante de esquerda da Central Sindical e Popular Batay Ouvrier. Mesmo tendo sempre me posicionado ativamente contra a brutal ocupação das tropas da ONU no Haiti, foi só neste momento que tive a real dimensão do que se passa lá.

Didier falou sobre as revoltas que ocorreram no início de 2009 pelo aumento do salário mínimo (que tem o valor de US$1,70 por dia!). Falou sobre o tipo de perseguição política que sofrem os militantes de esquerda, sobre as repressões ao movimento que chegaram ao ponto das "tropas de paz" invadirem um hospital jogando bombas de gás lacrimogêneo em seu interior, assassinando um idoso e uma criança recém-nascida. Falou sobre a situação de miséria do Haiti, onde há 70% de desemprego e 90% de analfabetismo.
Hoje também vemos nas notícias sobre o terremoto as opiniões sobre a dificuldade de ajuda aos haitianos por conta da falta de estrutura do país. Pouco, contudo, se fala sobre o que gerou isso. Muito se fala sobre ditaduras sanguinárias que existiram lá; pouco se fala sobre que as financiou, quem as apoiou ativamente, quem ocupou o país militarmente diversas vezes. Muito se fala sobre supostas "tropas de paz"; pouco se
fala sobre o papel que cumprem cotidianamente, reprimindo a população, estuprando as mulheres, aterrorizando aqueles que se revoltam contra a miséria imposta.
Resgatar a história deste povo é fundamental, desde a luta por sua independência, que em 1804 conseguiu derrotar 25 mil homens das tropas de Napoleão e fundar o primeiro país independente da América Latina, a primeira república negra do mundo. A nossa solidariedade deve ser ao povo haitiano, que lutou e luta a cada dia contra aqueles mesmos que hoje aparecem de cara lavada nas televiões, internet e jornais, estendendo sua hipócrita mão para "ajudar".
Hoje o imperialismo disputa a tapa para decidir quem vai comandar o futuro do Haiti. O aeroporto está controlado pelas "humanitárias" forças militares estadunidenses que impedem o acesso de ajuda médica para priorizar o repatriamento de cidadãos de seu país. Mandam cada vez mais tropas, mas podemos ver nas poucas entrevistas com a população que não há ajuda alguma ao povo, que é obrigado a saquear as lojas destruídas (sendo violentamente reprimidos pelas "tropas de paz" por tentarem sobreviver) e tirar seus amigos e parentes dos escombros com as próprias mãos. A grande ajuda que chega, como apontou Adriana Diniz no JB, foi 4 mil vezes menor do que o dinheiro usado para salvar os capitalistas durante a crise.

Para quem quiser acompanhar mais notícias sobre o Haiti, estou postando algumas coisas interessantes no meu twitter (fepardal). Na quinta-feira realizaremos um ato no consulado haitiano, com horário ainda a determinar. Em breve divulgo com mais detalhes.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Livros de 2009

1- Os irmãos Karamázov (Dostoiévski)
2- Maria. Uma peça e cinco histórias (Isaac Bábel)
3- A tragédia de um povo. Revolução Russa 1891-1924 (Orlando Figes)
4- Infância (Górki)
5- Ganhando meu pão (Górki)
6- Minhas universidades (Górki)
7- No fundo (Górki)
8- O Estado e a Revolução (Lênin)
9- O programa de transição / documentos da quarta internacional (Trotsky)
10- Da Cabula (Allan da Rosa)
11- Morada (Guma e Allan da Rosa)
12- O Romantismo no Brasil (Antonio Candido)
13- Lutadoras (Andrea D'Atri e Diana Assunção orgs.)
14- Pedagogia do oprimido (Paulo Freire)
15- Letramento literário (Rildo Cosson)
16- O Cortiço (Aluisio Azevedo)
17- Um segredo no céu da boca (vários autores da Cooperifa)
18- Iracema (José de Alencar)
19- Germinal (Émile Zola)
20- Palestina: uma nação ocupada (Joe Sacco)
21- Palestina: na faixa de gaza (Joe Sacco)
22- Pyongyang (Guy Delisle)
23- Memórias do cárcere (Graciliano Ramos)
24- A terra dos meninos pelados (Graciliano Ramos)
25- A mulher de trinta anos (Honoré de Balzac)
26- Diário do exílio (Trotsky)
27- A revolução traída (Trotsky)
28- Marxism and Literary criticism (Terry Eagleton)
29- México rebelde: A comuna de Oaxaca (Gilson Dantas)
30- Escritos latinoamericanos (Trotsky)
31- A mão e a luva (Machado de Assis)
32 - Crônicas escolhidas (Machado de Assis)
33 - Valéria (Milo Manara)
34 - O clic (Milo Manara)
35 - O Grito do Povo (Vautrin/ Tardi)
36 - Filhos da pátria (João Melo)
37 - Persépolis (Marjane Satrapi)
38 - A história da revolução russa vol. 1 (Trotsky)