segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Vamos brincar de uma coisa que eu não brinco faz tempo. Funciona assim, eu pego um pedaço de um conto meu grande o suficiente pra encher o saco de qualquer um e posto aqui.



Todos os Reinos se fazem, todos os Reinos se ruem.
Nos escombros dos velhos Reinos, nas cinzas das antigas Vidas, nas sombras dos esquecidos Amores, sempre se criarão novas Vidas, novos Amores, que erguerão novos Reinos.
As grandes batalhas nunca serão as de Sangue e Espada. Elas serão de Corações e Mentes. As grandes guerras não se travam em vastos campos, mas sim, dentro dos Corações.
Pois o mais imponente Castelo ou Palácio será sempre uma carcaça sem valor, se suas paredes não abrigarem o Amor e Lealdade dos Corações.
A Vida não surge com a ascensão do primeiro Rei, nem há de se apagar com a queda da última Rainha. A Vida é persistente e teimosa, capaz de se arrastar por cantos escuros para voltar em esplendor. E ela não há de pertencer a ninguém, nem submeter seu poder a nenhuma ganância.
O Poder é uma ficção dos homens, mas a Vida é uma Verdade do mundo.
Quanto ao Amor, ninguém saberá jamais.

Estas palavras já existiam, muito antes que se soubesse do primeiro Reino erguido sob o testemunho dos astros eternos, pairando sobre as cabeças mortais. Quem primeiro as havia proferido, ninguém sabia. Mas um Rei uma vez disse, e muitos concordaram, que eram apenas palavras e, como tal, estavam fadadas a se desvanecerem nas areias do Tempo. Se o Tempo consumia florestas, oceanos, Reis e Rainhas, havia de consumir palavras ditas ao acaso. Um dia não significariam nada, para ninguém. E neste dia, quem as proclamou não existiria nem mesmo nas mais derradeiras canções do mais soturno bardo, e nunca poderia recriar a força que suas palavras um dia possuíram.
No entanto, havia quem discordasse deste Rei, vendo nestas palavras algo de verdadeiro e imortal. Havia quem acreditasse que estas palavras não teriam sido cunhadas por meras mãos mortais, mas sim por alguém que via as tramas invisíveis que criavam e desfaziam os Amores e os Reinados. E eram palavras que deveriam permanecer guardadas com zelo e observadas quando qualquer decisão importante devesse ser tomada. Principalmente, pelo governante de um Reino.
Um dos que valorizavam estas palavras era um jovem de poucas aventuras e sem grandes feitos heróicos. Ele gostava de palavras, pois as palavras viravam pensamentos. Os pensamentos, por sua vez, originam as idéias. E este jovem sempre acreditou que as idéias e emoções tinham uma relação estreita, mais valiosa do que era costumeiro acreditar na terra onde ele nasceu. Idéias originam Amores, Amores originam Idéias. Era isto e algo mais. Idealizar era isto para ele: transformar idéias em sentimentos, em Amores, que eram os cavalos a puxar as carruagens das ações. Era isto, o jovem pensava, que erguia e derrubava os Reinos e os Corações. Era isto que criava as histórias e, por fim, as transformava em Lendas. Idealizar era, em si, o ato supremo de criar o Amor. Ele especulava muito sobre o Amor, pensando de que maneira ele se criava e se desfazia e até que ponto os Corações podiam se unir. Muitos de seus dias e noites dedicaram-se a isto: pensar nas idéias e nos sentimentos; pensar nos Corações e nos pensamentos.
Ele via naquelas misteriosas palavras proferidas em um passado remoto, este poder mágico, ao mesmo tempo criador e transformador. Eram palavras que suscitavam algo, e ele sabia que não eram todos que pensavam assim. Seriam as palavras, de fato, apenas seqüências mortas de letras, incapazes e estéreis? Não, sem dúvida as palavras eram portais de poder infinito. Portais para dentro dos Corações e mentes, e tudo se faria através delas. Mas de nada valia o poder das palavras se ninguém acreditasse nelas. O poder estava em acreditar, esta era a maior conclusão a que ele havia chegado.
No pequeno vilarejo onde vivia, o jovem tinha alguns bons amigos e levava uma vida simples. Nada de guerras ou Reis ambiciosos, nada de conflitos ou disputas. Nos seus dias tranqüilos, o jovem tinha muito tempo para pensar nestas coisas, e muitas vezes tentava compartilhar seus pensamentos com algum companheiro, mas a resposta quase sempre era a mesma. Com um sorriso de escárnio e comiseração estampado nos seus rostos, todos lhe diziam que faltava algo fundamental para que ele pudesse afirmar com tanta autoridade sobre Corações e Amores: ao pobre jovem, faltava um verdadeiro Amor. Ele sempre se zangava com esta resposta, que considerava demasiadamente simplória. Ora, não é preciso ser um Rei para poder julgar se as atitudes de um Rei são justas ou não. Não é preciso ser perfurado por uma espada para saber que a frieza de sua lâmina é capaz de causar a dor e extinguir o brilho de uma vida. Por que seria preciso um verdadeiro Amor para saber o que o causa, qual é o seu poder e como ele funciona? Dentro de si o jovem tinha a certeza de que os que lhe diziam isto é que se encontravam verdadeiramente iludidos, pois o Amor que eles julgavam tão essencial para compreender esta questão os havia cegado completamente e isto impedia que o enxergassem objetivamente, como um objeto de contemplações e estudos, que poderia ser entendido como outro qualquer. Afinal, estes que criticavam suas idéias, nunca surgiram com outras idéias para contrapor às suas. A maioria simplesmente dizia que tentar entender o verdadeiro Amor era estupidez, perda de tempo, como seria tentar movimentar o sol com suas próprias mãos.
Foi na véspera do casamento de seu melhor amigo, que a decisão de partir finalmente foi forte o suficiente para lhe arrancar de seu povoado. Era uma noite quente de verão, os dois estavam sentados perto do bosque, vendo as estrelas e conversando. Eram tempos magros na aldeia, o clima severo havia acabado com muitas plantações e as dificuldades para alimentar tantas bocas famintas se faziam presentes no dia-a-dia de todas as famílias. Definitivamente, não era uma boa época para casamentos ou filhos. Estas coisas significavam mais despesas, que poderiam perfeitamente ser adiadas para uma época de maior fartura. Insistentemente o jovem dizia isto para seu amigo.
- Eu já coloquei todos os meus argumentos à sua disposição, com os quais você concordou prontamente, e já se fez mais do que evidente o fato de que o casamento complicará sua vida. Passará mais tempo trabalhando e mesmo assim isto pode não ser o suficiente para garantir seu sustento. Se tiverem filhos então, não sei como conseguirá mantê-los. Explique-me por que você não adia o casamento, pelo menos até a próxima colheita?
O amigo sorria ao responder a pergunta para ele. Sabia que tudo o que ele dizia era verdade, mas isto não abalava sua felicidade.
- Caso-me porque é isto que devo fazer. Se os tempos são de fome, sobreviveremos juntos a eles. Não há porque me preocupar, nós vamos passar por isto. Eu sei que você não entende isto, você ainda não é capaz de entender o que me dá forças.
- Forças? Como você diz que isto dá forças ao seu Coração? Isto apenas está cegando você, fazendo com que tome decisões precipitadas e inconseqüentes. E quando esta loucura se abrandar, como eu sei que o Tempo há de fazer, então perceberá os erros que cometeu. Mas então será tarde demais, e vendo os seus próprios erros julgará que a culpa por eles é daquela que conquistou seu Coração e fez com que perdesse seu caminho. E aquilo que um dia você chamou de verdadeiro Amor tornar-se-á lentamente em ódio velado e você estará amarrado a isto, fadado a carregar pelo resto de sua vida o resultado de um momento de insensatez. E criará seus filhos, frutos daquele Amor que um dia sentiu, apenas para que no futuro eles venham a cometer o mesmo erro. Você diz que o amor é incompreensível, mas o que é verdadeiramente incompreensível é sua atitude diante dele. Por que você não deseja compreender o Amor e se libertar de suas armadilhas? Não me desagrada que você viva um Amor, mas seria muito mais feliz se o vivesse com prudência.
- Não somos nós que devemos compreender o Amor, mas ele que deve nos compreender. Não há prudência na fome de um recém-nascido que sorve o leite de sua mãe, não há prudência no sono de alguém que não dorme há uma semana. Não há prudência no vôo de um pássaro ou nos homens quando respiram o ar que lhes alimenta a Vida. Um dia meu amigo, eu sei que você há de compreender que no Amor, assim como em outras situações, a prudência é uma mentira e um erro. O Amor existe por si e para si e não deve satisfações a você nem a ninguém. Ele não tem um porque ou um como, pois ele é o porquê e o como.
- Apenas palavras de um cego que não deseja enxergar. Você tem sido usado por este Amor como todos nós sempre temos sido. É assim que governantes tiranos se aproveitam de seu povo e o exploram, recebendo em troca juras de lealdade. Os Reis são homens que souberam dominar os Corações e usá-los para seu proveito, impiedosos Conquistadores de Corações. Seus súditos, cegos, apenas lhes entregam seus Corações para serem governados. Meu amigo, eu não nasci neste povoado para ter meu Coração escravizado por ninguém. Eu lhe desejo uma boa sorte em sua vida, mas meu caminho é diferente. Tomo as rédeas de meu Destino em minhas próprias mãos e um dia você há de ouvir sobre mim de novo, pois eu sei o valor das Palavras, dos Corações e das Mentes. Eu farei as pessoas acreditarem em mim, do mesmo modo que você acredita em seu Amor.
Tendo dito estas palavras, o jovem tirou de seu pescoço o pingente que pela vida inteira usou, e entregou a seu amigo.
- Não se esqueça de mim, pois eu não me esquecerei de ti. Este é meu presente de casamento. Como sabe, nada tenho que possa lhe garantir riquezas e sustento para sua família, como eu gostaria de poder garantir. O melhor que posso lhe dar é meu pingente, que para mim vale muito. Que ele mantenha perto de seu Coração o desejo que eu tenho que você seja feliz.
Então eles se abraçaram. O amigo sabia que seria a última vez que veria o jovem e sabia que nada do que dissesse o faria desistir de sua partida. Ele o conhecia bem o suficiente para saber que este dia chegaria, pois não era àquele lugar que o Coração do jovem pertencia. Ele devia procurar seu próprio Destino. Quando se olharam demoradamente uma última vez antes da partida, lágrimas escorriam dos olhos de ambos. Mas eles também sorriam, pois sabiam que os dois estavam partindo para o Destino que haviam escolhido para si.
O jovem saiu da cidade levando pouca coisa consigo e sem avisar mais ninguém, pois sabia que os outros não entenderiam seus motivos se tentasse explicá-los. Enquanto saia para um mundo que desconhecia, ele ainda pensava sobre as palavras de seu amigo e sobre o Amor. Pensou nas palavras antigas, que diziam que o Poder é uma ficção dos homens e a Vida é uma verdade do mundo. Quanto ao amor, ninguém jamais saberá. “Eu sei”, pensou o jovem. “O Amor é uma ficção dos homens, que eles criam e torna-se maior do que eles próprios. É uma ficção criada para enganarem a si mesmos, e que foge ao controle depois de feita. E, sendo uma ficção, qualquer um que o entenda pode criá-lo e usá-lo. As pessoas se submetem incondicionalmente aos Amores e aos desejos de seus Corações, e elas idealizam sem nem ao menos se darem conta disto. As Palavras são Poder, os Corações são Poder, os Amores são Poder. Se as pessoas querem realmente se enganar criando estas ficções, então eu não serei uma delas. Não me subjugarei de uma maneira tão deliberada. Como diziam as velhas palavras, a Vida é capaz de se arrastar por cantos escuros e voltar em esplendor. Ela não há de se pertencer a ninguém e nem se submeter a nenhuma ganância. A minha vida certamente não se submeterá.”
Com o Coração amargurado, o jovem decidiu que o Amor seria seu instrumento, seria seu para usá-lo. Se todos se subjugavam ao Amor, ele seria um dos poucos que subjugavam o próprio Amor para desfrutar verdadeiramente de seus benefícios. E foi assim que, quando saiu do povoado, o jovem já havia se transformado em um Caçador de Corações.

domingo, fevereiro 13, 2005

Pra todos aqueles que estão meio melancólicos.
Pra todos aqueles que estão meio apaixonados, cujas vidas vivem em sonhos.
Pra todos aqueles que gostam de dormir, e deixar a realidade pra trás.

Dream a little dream of me

Stars shining bright above you.
Night breezes seem to whisper, 'I love you,'
Birds singing in the sycamore tree.
Dream a little dream of me.

Say nighty-night and kiss me.
Just hold me tight and tell me you'll miss me.
While I'm alone and blue as can be,
Dream a little dream of me.

Stars fading, but I linger on, dear,
Still craving your kiss.
I'm longing to linger 'till dawn, dear,
Just saying this:

Sweet dreams 'till sunbeams find you,
Sweet dreams that leave all worries behind you.
But in your dreams, whatever they be.
Dream a little dream of me.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Fica muito difícil conseguir sair daqui.
Computador novo, com word e tudo mais.
Faz tanto tempo que eu não escrevo...tanto, tanto...

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Cinzas.
São as verdades de ontem, espalhadas sobre sua vida.
Lágrimas secas tem gosto de sal, tem gosto de sangue.
O sangue tem gosto de vida. Tudo o que é vivo sangra e chora.
O gosto de sal nunca vai embora.
Você pode mentir. Você pode dizer que tudo tem gosto de nada.
A verdade é que as alegrias podem não ter mais gosto de nada.
Mas o gosto de sal fica, ele nunca vai embora.
Cinzas.
O passado é feito de cinzas. A vida é feita de passado.