quarta-feira, abril 27, 2005

Sempre tentando se segurar com as duas mãos na Terra do Nunca.

Hoje é meu último dia na APG.
Saldo do primeiro emprego: algum dinheiro e dois meses de encheção de saco.
E agora criançada, será que eu consigo controlar minha vida pra ela não ser tão imbecil?

quinta-feira, abril 14, 2005

Podia quebrar o despertador, mas não podia fazer o tempo parar.
Podia pedir demissão, mas não podia deixar de trabalhar.
Podia tapar os ouvidos, mas não podia deixar de ouvir.
Podia fechar os olhos, mas não podia deixar de ver.
Podia dormir mais, mas não podia extinguir o sono.
Podia comer mais, mas não podia extinguir a fome.
Podia alterar, mas não podia transformar.
Podia conquistar, mas não podia ser Rei.
Podia melhorar, mas não podia ser bom.
Podia correr, mas não podia escapar.
Podia pensar, mas não podia fazer.
Podia parecer, mas não podia ser.


Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo roda gigante
Roda moinho, pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

segunda-feira, abril 11, 2005

A Terri Schiavo, o Papa e um príncipe de Um-Lugar-Qualquer-Que-Eu-Não-Lembro-O-Nome morreram.
Mas eu não estou nem aí. E não estou nem aí pra não estar nem aí. E não estou nem aí se você não está nem aí.
Eu estou sempre preso dentro da minha cabeça, e todos os lugares que eu possa visitar também estão. E na verdade, não importa onde eu estou, o que eu estou fazendo ou o que acontece. Porque a minha cabeça é um lugar pequeno, escuro e repetitivo, e eu não vou sair dela nunca. E eu sei que nunca estive em todos os lugares da minha cabeça, e também que nem todos os lugares estiveram na minha cabeça. Eu gosto de imaginar minha cabeça como um lugar grande, colorido, divertido e cheio de surpresas. Mas na verdade ela já estava pronta muito antes de eu nascer, velha e chata como sempre vai ser. Eu não sei fazer as coisas direito, e acho que já me acostumei com isso. É só mais uma daquelas coisas da minha cabeça. Daí eu tento endireitar todas as coisas erradas que venho fazendo e finalmente acho que elas estão certas. Mas na verdade elas estão erradas de outro jeito. Acertar as coisas é só errar no sentido contrário.
Meios termos fedem. Intensidade enjoa, dá náuseas, acaba e fica com cheiro de perfume vagabundo e ressaca.
A sinceridade é um lugar-comum, e a mentira é uma caverna triste e solitária.
Na minha cabeça, eu já vi o seu rosto mil vezes. Dá trabalho cuidar de uma memória até ela não gastar. O fácil é deixar todas as coisas velhas, ruins, sujas e opacas. A vida é translucida pra uns e transparente pra outros, mas no fim dá na mesma.
Se você não gosta de mim, eu não sei porque chega tão perto. Sempre chegam pertopertopertodemais.
Eu sou só um velho rabugento. Mas uma vez um amigo disse que eu oscilo entre a impulsividade e a depressão de uma maneira meio aleatória, caótica e divertida. É bom conseguir acreditar que se é pelo menos um pouco imprevisível e interessante. Vou tentar guardar isto na cabeça, e com sorte amanhã eu vou ter esquecido tudo de ruim que eu fiz comigo mesmo e com os outros. Com sorte vou ter esquecido que sou igual a todo mundo e vou lembrar que tem muita coisa ainda pra fazer. Com sorte, vou achar que a vida não é um disco riscado em um refrão meloso e idiota.