domingo, fevereiro 29, 2004

Aparentemente, de acordo com experimentos realizados hoje na ilustre residência em que me encontro, torna-se evidente que, por mais que um indivíduo se afogue em um insosso e gigantesco mar de tédio e desilusão consigo mesmo, é difícil que este venha a falecer naturalmente disto, levando em conta que algo tão infrutífero e trabalhoso como o suicídio não se encontra entre os possíveis planos de ação que o ser supra-citado possa vir a realizar eventualmente.
Tendo em vista que o marasmo que vem a inundar os dias do sujeito em questão deve-se a nada menos do que sua incompetência para liderar sua vida de uma maneira um pouco mais agradável do que o ato de ouvir a biblía narrada pelo Cid Moreira, ou retalhar seu corpo com uma gilete e mergulhar em uma banheira de ácido, em nenhum momento pode-se contar com a habilidade e perícia do indivíduo em transformar de tal forma a sua presente situação, levando-o, enfim, a uma situação prazeirosa e de grande conforto e diversão.
Portanto, a não ser que alguma ajuda suprema venha neste momento oportuno, a tendência é que o experimento realizado se prolongue indefinidamente, comprovando assim os resultados de uma vida idiota a longo prazo sobre a medíocre psique de tal desafortunada criatura.
Um "Manual prático para imbecis: Como viver sua vida sem ser um merda" viria a calhar. Além disto, apostando na alta probabilidade de que venham a existir outros seres com similar inabilidade para viverem suas vidas (em grau menor do que o indivíduo em questão, obvamente), torna provável que o autor de tal obra venha a enriquecer fartamente com os direitos autorais de tal obra.
Amanhã, teoricamente, é mais um novo começo. Ciclo básico de Letras, blá, blá, blá.
Eu tenho as coisas perfeitas, arranjadas, prontas, de mão beijada.
Estudo medicina sem nunca ter estudado que nem um condenado no cursinho, meus pais não se importam, até ficam felizes aliás, de pagar uma faculdade obscenamente cara para mim. Eu entrei em letras sem ter estudado um puto pra isto, e ainda entrei com umas setecentas vagas de folga.
O resto é fácil, pode ter certeza. Estudar um pouco a mais, um pouco de força de vontade, determinação. Eu poderia estudar lingüística, neurologia, psiquiatria e virar um neuropsicólogo. Trabalhar em pesquisa numa área maravilhosa e ainda de quebra ajudar um monte de gente. Pra citar só uma das inúmeras possibilidades.
Agora, o que eu tenho a fazer é evidente e nítido para mim. Organizar um bolão de apostas, quanto tempo eu levo pra jogar fora minhas chances de novo?
Eu nunca vou conseguir ser um daqueles intelectuais que abdicam de sua vida pessoal e estudam até não poder mais. Mas isto facilitaria minha vida enormemente.
Foda-se, eu não quero escrever nada, só não agüentava mais me encherem o saco pra atualizar o blog. Tá feito, pelo menos isto dá pra fazer sem jogar merda no ventilador.

domingo, fevereiro 08, 2004

O que eu devo pensar quando uma escritora fodona morre enquanto eu estou lendo um livro dela pela primeira vez?
Errar é humano, insistir no erro é burrice.
A única conclusão que posso tirar disto é que sou burro. Eu continuo fazendo o mesmo tipo de besteira eternamente. Por exemplo: sei que meu ano não começou lá grandes coisas e a tendência é piorar. Voluntariamente me meti em uma encrenca das grandes, vou entrar na minha terceira faculdade e, no caso de tentar fazer duas ao mesmo tempo, vou passar mais de doze horas do meu dia no maravilhoso e estimulante meio acadêmico. É óbvio que não vai dar certo e eu sempre soube disto. Vou ter que tomar uma decisão e vou adiar ela o máximo possível e, quando tomar, provavelmente vou me arrepender.
Enfim, eu vou empurrando tudo com a barriga até as coisas darem bem errado. E pra arranjar motivações, invento alguma esperança estúpida. No momento, minha esperança estúpida é que eu me apaixone pela letras e largue a medicina sem o menor peso na consciência, arranjando para mim uma nova e maravilhosa vida.
Eu não ando bom para entreter pessoas com textos em blog, a não ser que gostem de historinhas chatas e compridas.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Boa, imbecil.
Eu sei mesmo como estragar minhas oportunidades.
Ah, Thaís, acho que vou começar uma contra-campanha, a favor dos blog herméticos. Eu já me sinto estúpido o suficiente sem ficar listando os motivos da minha imbecilidade.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Don't you want somebody to love?
(Jefferson Airplane)


When the truth is found to be lies
And all the joy within you dies

Don't you want somebody to love
Don't you need somebody to love
Wouldn't you love somebody to love
You better find somebody to love

When the garden flowers baby are dead yes
And your mind is full of red

Don't you want somebody to love
Don't you need somebody to love
Wouldn't you love somebody to love
You better find somebody to love

Your eyes, I say your eyes may look like his
But in your head baby I'm afraid you don't know where it is

Don't you want somebody to love
Don't you need somebody to love
Wouldn't you love somebody to love
You better find somebody to love

Tears are running ah running down your breast
And your friends baby they treat you like a guest

Don't you want somebody to love
Don't you need somebody to love
Wouldn't you love somebody to love
You better find somebody to love

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Último Post:

Rainha de Esplendor: Perdida em seu Lar

A jornada até o Palácio da Rainha de Espadas foi bem mais curta, e Coração de Boneca caminhou com um ânimo renovado. Pela primeira vez ele sabia para onde seguia, desde que deixara o Palácio de Cristal, há tanto tempo atrás. Seu Coração remoia-se em saudades, carregando a imagem de sua Rainha. Mas agora sua saudade o impulsionava, fazendo com que ele esquecesse das dores em suas pernas cansadas, e aproximando-o cada vez mais do Reino de Espadas.
A Rainha de Espadas não passava mais seus dias dentro de seu Palácio. Disfarçando como podia os seus encantos de Rainha, ela passava-se por uma andarilha nas vilas e povoados de seu Reino. Vestida em pobres andrajos ela circulava pelas ruas, que eram como veias e artérias correndo pelo Coração pulsante de seu Reino, trazendo e levando as vidas que construíam toda a maravilha de seu Reino, as pessoas que mantinham erguido seu Palácio e sustentavam sua criação. Ela peregrinava querendo encontrar algo, e ela estava perdida dentro de seu próprio lar. Dia após dia, ela vagou rumo às fronteiras de seu Reino, temendo cada vez mais pela sorte de seus domínios e pelos Corações de seus súditos.
Quando a Rainha de Espadas chegou no limite de seu Reinado, e estava tentando tomar a difícil decisão sobre deixar ou não o seu lar, ela encontrou um viajante que queria entrar no Reino de Espadas. No momento em que avistou aqueles olhos cansados e marejados, ela esqueceu-se de todo o resto. Coração de Boneca, por sua vez, sabia estar ainda longe do Palácio, pois o Reino de Espadas era extenso e a Rainha morava longe de suas fronteiras. Mas ele levava consigo o Coração da Rainha de Copas, que não se enganaria quanto a seus Desejos. E este Coração pulsou fortemente quando Coração de Boneca avistou uma mulher desconhecida, parada bem na fronteira do Reino de Espadas. Ele precisava descobrir quem ela era.
- Com licença, - Coração de Boneca disse cautelosamente, enquanto a própria Rainha tentava entender o que havia naquele estrangeiro que lhe abalava tanto. – eu estou procurando o Palácio da Rainha. Você pode me dizer para que direção ele fica?
Aquele disfarce nunca seria suficiente para enganar Coração de Boneca, que já havia percebido algo diferente no Coração daquela estranha. No entanto, mesmo que ele sentisse o Coração da Rainha de Copas tornando-se diferente perto daquela mulher, ele não conseguiu imaginar que ela era a Rainha de Espadas, tão longe de seu Palácio. E a Rainha de Espadas lutava consigo mesma agora. Por tanto tempo ela procurou ignorar aquele Vazio dentro de si, e agora os olhos de Coração de Boneca diziam a ela que aquele Vazio era maior do que ela havia pensado, e que o Coração dela não mais pertenceria apenas a ela própria. Seu Coração queria pertencer a Coração de Bonecas, que mais uma vez conquistava sem desejar isto.
- Quem é você? O que quer no Palácio? – Ela sabia que não havia mais como escapar. Sempre fora uma Rainha, uma Conquistadora de Corações, e por isto sabia reconhecer um Coração conquistado. E ela reconhecia agora, que seu próprio Coração fora irremediavelmente conquistado, e ela tinha medo. Ela temia pela segurança de um Reino, cujo Coração de sua governante agora dependia de um completo estranho.
- Eu sou Coração de Boneca, e procuro a Rainha de Espadas.
- Pois se procura a Rainha de Espadas, já a encontrou. – a Rainha retirou seu disfarce, e seus olhos derramavam Lágrimas que ela não podia conter. Algumas eram porque seu Coração pertencia ao Coração de Boneca, derramador das Lágrimas Eternas. Outras eram porque ela julgava-se derrotada de certa forma, acreditando que Coração de Bonecas havia viajado até o Reino de Espadas para conquistá-lo e para destroná-la. E, tendo seu Coração, isto não seria nenhum desafio. – E se é meu Coração que deseja, meu Reino que veio conquistar, então você já o tem. Você me venceu Coração de Boneca, e meu Coração agora é seu.
Coração de Boneca estava surpreso. E ele derramou Lágrimas, pois mais uma vez sua maldição o perseguia. Viajara tanto para buscar o Coração que sua Rainha precisava, e agora o Coração pertencia a ele. Mesmo assim, deveria levar o Desejo de sua Rainha.
- Eu não quero seu Reino e não quero nenhum Reino. Mas se o seu Coração foi conquistado, mesmo contra a minha vontade, então você atenderá meu pedido e virá comigo para o Reino de Copas, onde minha Rainha aguarda por você.
- Se assim você me pede, eu não posso negar. O Desejo de meu Coração é estar sempre ao seu lado. Mas eu espero que você não destrate o Coração que lhe foi entregue, e permita que depois de atender seu pedido eu retorne ao meu Reino, meu verdadeiro Lar, pois eu pertenço a este lugar e este lugar pertence a mim. Sem mim, os Corações de meus súditos sofrerão.
- Farei o possível para que você possa voltar para seu Reino, pois eu entendo bem o que é ter seu Coração distante do verdadeiro Lar.
A Rainha de Espadas e Coração de Boneca viajaram rapidamente para o Reino de Copas, nas carruagens da Rainha de Espadas. Durante a viagem eles puderam conversar muito, e a Rainha sempre insistia para que Coração de Boneca passasse a viver em seu Reino, ao seu lado. A Rainha de Espadas não tinha mais um Vazio, mas certamente não havia resolvido seus problemas. Estava agora, pela primeira vez, longe de seu Reino e seu Coração pertencia a alguém cujo Coração não pertencia a ela.

De volta ao Lar: Corações Entregues

A Senhora dos Farrapos sentiu um relampejo de vida voltar a brilhar nos frios corredores do Palácio de Cristal com a volta de Coração de Boneca ao Reino de Copas. Quando ele passou pela fronteira do Reino, a Rainha sentiu que ele se aproximava com o fragmento de seu Coração, e que ele trazia algo de sua Jornada. Ela sentiu um Coração Estrangeiro, e dentro dele havia ansiedade e angústia. Mas também havia alegria. No entanto, foi apenas no momento em que o Coração de Boneca colocou a Rainha de Espadas bem a sua frente, que a Rainha de Copas percebeu que, mesmo sem saber o que buscava, Coração de Boneca havia encontrado. Ela tinha algo que nem mesmo Coração de Boneca tinha, a Rainha de Espadas tinha o destino do Reino de Copas em suas mãos e nem sequer havia se esforçado para isto. O que a Rainha de Copas não sabia, é que aquele Coração já fora conquistado.
As Lágrimas que se derramavam pelo rosto da Rainha de Espadas eram cristalinas e puras, e prendiam em cada uma delas os Desejos da Rainha de Copas. Um Reino desconstruído se refletia nos gestos da Senhora dos Farrapos, um Reino que ambicionava trazer para si a vitalidade perfeita daquela Rainha. E a Rainha de Copas não hesitou ao ajoelhar-se diante da Rainha de Espadas e propor a união de seus Reinos. Mas em resposta, vieram apenas Lágrimas que a Rainha de Espadas havia juntado dentro de si. Ela não podia entregar seu Coração ou seu Reino para a Senhora dos Farrapos, pois eles nem ao menos pertenciam a ela verdadeiramente.
Os Reinos estavam separados. Um em ruínas, o outro perdido.

O Destino dos Corações: Sacrifícios e Ofertas

Mesmo sabendo o que lhe cabia fazer agora, e mesmo tendo se preparado durante toda a viagem de volta para fazê-lo, foi preciso uma noite a mais para Coração de Bonecas conseguir juntar a coragem para ir em frente até o fim, sem pensar mais no que poderia ter sido. Foi preciso assistir por mais uma noite sua Rainha, perdida em meio a um Reino desfeito. Foi preciso ver em seus olhos um Desejo que ardia, ver como ela precisava do Coração da Rainha de Espadas para reconstruir seus farrapos. Era um Desejo que ele conhecia bem, e ele sabia que só ele poderia garantir a junção dos Reinos. E foi então que, quando a Rainha de Copas finalmente conseguiu livrar-se de suas angústias e cair em um sono perturbado, Coração de Boneca foi até o Espelho das Almas fazer sua oferta.
Ninguém vive sem um Coração. Coração de Boneca não era uma exceção, e ele sabia disto. Mas ele sabia também que o Coração da Rainha de Espadas seguiria o seu, onde quer que ele fosse. Ele sabia que, quem quer que possuísse seu Coração, teria também o da Rainha de Espadas. E, com a ajuda do Espelho das Almas ele conseguiu cumprir seu objetivo. Antes do amanhecer, Coração de Boneca havia arrancado seu próprio Coração e ele era agora o segundo Coração da Rainha de Copas. Mas, ao contrário do que pensava, Coração de Boneca sobreviveu. Ainda havia restado para ele o fragmento do Coração que a Rainha de Copas lhe havia entregue. Ele pulsava, dentro de seu peito, mantendo-o ainda vivo. E, sendo o Coração de uma Rainha, entregue por vontade própria, ele foi suficiente para manter Coração de Boneca. Agora ele não era mais Coração de Boneca, pois este Coração era da Rainha de Copas. Ele era apenas um pedaço, ele era apenas Fragmentos de Copas.

Reinos Unidos, Farrapos Eternos

Possuindo o Coração de Boneca, a Rainha de Copas era também Senhora do Coração da Rainha de Espadas, que havia conquistado seu Coração de Copas. Os seus Reinos, tal como seus Corações, juntaram-se para formar o maior Reino já visto, sob o comando das duas Rainhas que fortaleciam-se unidas.
Fragmentos de Copas viveu neste novo Reino, como um herói que entregou seu próprio Coração para a Rainha de Copas. Ele não mais tinha um Coração de Boneca, nem derramava suas Lágrimas Eternas. Ele vivia agora dos fragmentos do Coração da Rainha, ele alimentava-se do que ela era. Sua vida era um pedaço da vida dela.
A Rainha de Copas reconstruiu seu Reino. Ela tinha tudo a seus pés, e conquistaria ainda muitos Corações. Ela sabia o que Coração de Boneca havia feito por ela, ele havia oferecido tudo o que ele era. E ele era, em última instância, o reflexo de tudo o que a Rainha de Copas havia conquistado e erguido, de tudo o que ela era e governava. Nunca nenhum outro Coração havia sido conquistado daquela forma, e a servido de maneira tão dedicada e incondicional. Por isto, ela olhava para ele como se ele fosse, de algum modo, tudo o que ela verdadeiramente possuía. Afinal, o Coração de Boneca que agora batia em seu peito, era mais próximo até mesmo do que o Coração conquistado da Rainha de Espadas. E nada poderia substituir a entrega que lhe fora feita por Coração de Boneca, nada poderia substituir suas Lágrimas Eternas que moravam dentro do seu peito. E ele era agora Fragmentos de Copas. Ele era em pedaços, pedaços dela própria. Ele era os farrapos do que fora e do que havia entregue; ele era os farrapos do Coração da Rainha de Copas. De uma maneira ou de outra, a Rainha de Copas eternamente seria a Senhora dos Farrapos. E Coração de Boneca estaria sempre com ela.