sexta-feira, setembro 19, 2008

Mas, afinal, o que é um amigo?
Creio que o último período da minha vida me leva inevitavelmente a ter que rever os paramêtros que me belizam aí neste âmbito. Aceito sugestões e comentários.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Transformar nossas vidas em uma parte de um coletivo não é tarefa fácil. Nossas rotinas e a inescapável missão de sobreviver neste mundo nos forçam constantemente a segmentarmos completamente tudo aquilo a que aspiramos e tudo o que produzimos. Mergulhamos em nossos empregos, em nossos estudos, em nossos relacionamentos (por si só já fracionados e determinados, com hora certa para serem vividos), em nossos medos e nossas esperanças.
Começo a perceber drasticamente que este sentimento que nos é imposto a cada momento que é o que mais me assusta e desanima, mais consegue me vencer nesta luta cotidiana. O medo de uma solidão que é muito maior do que simplesmente estar sozinho. É o medo de uma solidão existencial, uma solidão de viver uma vida que não converge para nada, exceto para a inevitável percepção de como podemos ser vazios se estamos isolados. É exatamente assim que, creio eu, surge aquela terrível solidão em meio à multidão. A falta de nos percebermos como parte de um mundo e a crença tola de que somos excepcionalmente singulares e aboslutamente incompreensíveis para aqueles que nos vêem pelo "lado de fora".
Para mim esta solidão, e é preciso convencer-me disto a cada dia, é o fruto da ideologia em que estamos imersos. E é uma evolução natural, cunhada em séculos de nossa cultura. Provavelmente o grosso de seu germe é aquilo que descende do Romantismo, das idéias de gênio solitário, da expressão da subjetividade e, enfim, de toda esta concepção artística que deriva diretamente da consolidação da burguesia como classe dominante. E assim, isolados, vivemos nossas vidas.
Apeguei-me, durante todo o tempo, àquilo que meu desespero me conduziu na tentativa de escapar desta sensação de isolamento completo. Amigos, namoradas, família. Sentir-me próximo de pessoas. E agora percebo o quanto também destes refúgios é tragado cada dia mais pela simples rotina, que teima por jogar-nos em projetos de vida individuais, voltados para sabe-se lá o que. Estes refúgios são necessários, mas nunca serão suficientes se não olharmos mais adiante.
Superar a solidão individualista é algo que não se faz sozinho, e muito menos pode ser um processo completo dentro de nosso mundo. Mas sem dúvida faz parte de uma tarefa tão cotidiana quanto fundamental. Acreditar na revolução não me basta. E hoje, para mim, a tarefa de transformar minhas crenças em dia-a-dia está intimamente associada a romper a barreira da solidão. A crise de subjetividade que nos assola somente será rompida no momento em que conseguirmos também transformar nosso cotidiano com o estabelecimento sólido de vínculos de solidariedade com aqueles que o mundo teima em afastar de nós.
Tudo isto é fruto de uma prisão e uma mentira, que temos que destruir. Quanto àqueles que deveriam estar ao meu lado mas querem me enxergar como um inimigo, posso apenas espera-los de mão aberta, até o momento em que percebam que o nosso inimigo é comum, e que para vencê-lo é necessário que ataquemos juntos.