quinta-feira, setembro 22, 2011

1ª Sessão do Grupo de Estudos: Marxismo, cultura e literatura


FINALMENTE vai sair do papel um projeto político e, para mim, também um projeto pessoal acalentado há tanto tempo! O
grupo de estudos da Letras USP de Marxismo, Cultura e Literatura, impulsionado pela Juventude às Ruas e estudantes independentes.

O texto da primeira sessão, "O que é literatura?", do Terry Eagleton, está no link do blog logo ali acima. Divulguem!

quarta-feira, setembro 21, 2011

Todo apoio à luta dos trabalhadores terceirizados da BMK! Pagamento dos salários! Efetivação de todos!

Abaixo, matéria da rede bandeirantes sobre a ocupação da coordenadoria do campus butantã da USP pelos trabalhadores terceirizados da empresa BMK, que estão há mais de um mês com seus salários atrasados. No vídeo, Diana Assunção, diretora do Sintusp e dirigente da LER-QI, conta como foi agredida pela guarda ao se colocar em defesa dos trabalhadores e defende a incorporação de todos os terceirizados ao quadro de efetivos da USP.
Os militantes do Bloco Anel às Ruas e da LER-QI estivaram lá para prestar solidariedade ativa, junto a outros estudantes. Hoje, a solidariedade nos cursos está sendo organizada e a ocupação permanece até o pagamento dos salários!

terça-feira, setembro 20, 2011

Diário da Argentina: Compañero López, PRESENTE! Ahora, Y SIEMPRE! Punição a todos os responsáveis pela ditadura, na Argentina e no Brasil!



Venho novamente falar do caso de Júlio López, porque o considero um importante exemplo que trás reflexões fundamentais para a esquerda brasileira. Antes de prosseguir, acho que vale à pena deixar este vídeo aqui, que o PTS produziu aos quatro anos de desaparecimento de Jorge Julio Lopez:



Neste vídeo se mostra a condenação de Miguel Etchecolatz, ex-comissário de polícia e diretor de investigações em Buenos Aires, que foi um dos principais responsáveis por mortes, torturas e sequestros durante a ditadura argentina, que em seu total assassinou 30.000 trabalhadores, militantes de esquerda, opositores ao regime. Foi ele, por exemplo, o responsável direto pelo sequestro de estudantes na "Noche de los lápices" que mencionei no meu primeiro post daqui.

Este genocida havia sido julgado no fim da ditadura, em 1986, e condenado a 23 anos. Porém, logo em seguida foi inocentado de todos os seus crimes pela suprema corte argentina baseado na "Ley Obediencia Debida", estabelecida na Argentina em 1987, durante o governo de Raúl Alfonsín. Esta lei perdoava todos os crimes de militares com patentes abaixo da de coronel de seus crimes, baseando-se no fato de que estavam apenas "cumprindo ordens". Pouco antes desta lei, em 1986, foi promulgada a "Ley de Punto Final". Depois, no governo de Carlos Menem, que foi o governo liberal em toda a linha da Argentina com diversas privatizações, vieram os indultos.

Há algo de familiar para você nestas leis? O Brasil, hoje governado por uma ex-guerrilheira, permanece com sua Lei de Anistia, que deixa completamente impunes TODOS os torturadores, empresários que financiaram o golpe, lhe deram suporte político, financiaram a OBAN (Operação Bandeirantes), que deu origem ao DOI-CODI. Durante o governo Lula, se fez uma "firula" de que algo seria feito. O ministro Paulo Vanucchi, considerado ala esquerda do governo, defendia uma "comissão da verdade e da justiça". Em pouco tempo, esta se tornou já uma proposta de "comissão da verdade": pedir justiça era demais. Mas a verdade é que Dilma e Lula não podem bancar sequer isso: seus maiores aliados eram parte orgânica do regime militar. José Sarney, por exemplo, a quem Lula dedicou grandes esforços para salvar, tendo chegado a centralizar o líder da bancada do PT no senado, Aloízio Mercadante, quando Sarney esteve envolvido em escândalos (se não me engano foi este aqui, mas são tantos que fica difícil lembrar de todos os escândalos!). Enfim, o PT não irá levar à frente nenhuma revisão da Lei de Anistia ou de punição aos torturadores.

Na Argentina, em 2003 foram revogadas estas leis que davam perdão aos torturadores. Em 2006, Miguel Etchecolat foi ao banco dos réus, e Julio López foi uma testemunha chave. Assistam abaixo, vale muito à pena, seu testemunho:



Foi por isso, por temerem sua coragem de dizer o que havia sofrido e de enfrentar os militares, coragem que os reformistas de ontem e hoje aplicadores da política burguesa do PT nunca terão, que sequestraram López. No dia seguinte de seu desaparecimento condenaram o primeiro genocida na Argentina, Etchecolat, à prisão perpétua. Mas é ainda pouco, muito pouco. Os camaradas do PTS há muito tempo dizem, como neste debate cinco anos depois das revogações das leis, que isso não é suficiente.

Não foi de graça que se revogaram as leis que anistiam os torturadores na Argentina, nem será de graça que o farão aqui. Lá, ainda há muito a se fazer. O governo de Cristina, que hoje tem 50% de popularidade, se passa por defensor de direitos humanos. A esquerda tem papel ativo, não apenas o PTS. O caso de Julio López, graças à atuação da esquerda, torna-se um escândalo nacional. No dia seguinte ao ato, no táxi, indo ao congresso, havia no rádio uma entrevista sobre isso. Hoje, passando por uma banca, vi estampado em um jornal. A denúncia ao governo está em nossas palavras de ordem nos atos:

- Cristina, no me chamuches! Hay genocidas libres, ainda há la impunidad! Y López dondé está? Y López dondé está?

(Chamuche, me disse uma camarada, é tipo uma conversa mole, lero-lero)

E também:

- Que pasa? Que pasa? Que pasa con el K? Hay desaparecidos en el gobierno popular!
e sua variante:
- Que pasa? Que pasa? Que pasa con el K? Ya pasán cinco años, Julio López dondé está?
("K" é o Kirchnerismo)

Há outra que denuncia a repressão ao movimento operário:

- mira Cristina, que popular! És el gobierno com más presos por luchar!

Em um país com 50% de popularidade em um governo que se diz "popular", em que o governismo tem uma base militante, com pichações nas ruas, marchas e manifestações, nos damos a tarefa de denunciá-lo, de enfrentar sua popularidade. Colocamo-nos a tarefa de enfrentar os resquícios da ditadura.

No Brasil, a esquerda está muito atrás. Somos um grupo muito menor, mas também temos nos colocado na linha de frente desta tarefa. É isso que demonstramos no dia 1 de abril, quando fomos a única organização que realizou um ato contra o golpe militar. A fala de Brandão foi muito lúcida no sentido de relacionar o que temos hoje com a ditadura:



É uma tarefa imprescindível da esquerda lutar contra a ditadura! O sequestro de Julio López é uma mostra de que ainda hoje há a impunidade, ainda hoje os torturadores e articuladores da ditadura estão livres, estão fazendo negócios milionários, estão nos governos! As transições pactuadas mantém os trabalhadores esmagados pela polícia, pelo estado! Se na Argentina nossos companheiros ainda lutam pela punição de todos os genocidas, aqui no Brasil, em que estamos muito mais atrasados, temos que redobrar nossos esforços: Pelo fim da lei da anistia! Pela punição de todos os torturadores, financiadores, cúmplices do golpe! Só os trabalhadores podem dar uma resposta a isso!

Participamos do ato pela punição do coronel Ustra, torturador de Merlino e muitos outros:



Mas este julgamento sequer pode condená-lo pelo que realmente ele é: um genocida!
Como gritamos no ato dos 5 anos de desaparecimento de Julio López:

- A los milicos assassinos les salvaran sus amigos: la democrácia peronista y radicál. Pero te cuides milico genocida, de la justícia obrera y popular.

Aqui também, não deixemos o PT salvar os milicos! Justiça operária e popular para punir todos os genocidas da ditadura!

Terceirizados da manutenção externa da USP ocupam coordenadoria do campus!

URGENTE!

Os trabalhadores da empresa da empresa BMK, responsável pelos serviços de jardinagem e manutenção de áreas externas da USP, agora há pouco ocuparam a coordenadoria do campus Butantã exigindo o pagamento de seus salários atrasados em cerca de um mês.

Minha camarada Diana Assunção, diretora do Sintusp e dirigente da LER-QI, está lá dentro com eles. Não sairão enquanto não receberem o que a empresa lhes deve.

Está é uma demonstração contundente do enorme impacto da greve dxs trabalhadorxs da União no primeiro semestre. Os terceirizados viram que é possível lutar, e que estaremos ao lado deles até a vitória!

TODO APOIO À LUTA DOS TRABALHADORES DA BMK!

segunda-feira, setembro 19, 2011

Diário da Argentina: 15º Congresso Mundial de Psiquiatria: hace falta el marxismo!




Primeiro de tudo: de quem e para quem é o congresso?

O Congresso Mundial de Psiquiatria em Buenos Aires deve reunir mais de dez mil psiquiatras. Realiza-se no requintado centro de convenções do Hotel Sheraton, e sua inscrição custa nada menos que 150 dólares. As mesas, quase todas, exceto umas poucas em espanhol, realizam-se em inglês, sem tradução. Fica a pergunta para vocês: quem participa do congresso? Mais uma dica: entre os milhares de participantes, vi aqui e ali uns dez ou, sendo otimista, vinte negros. Quem tem acesso à psiquiatria?

Dentre as muitas e muitas mesas que havia, tentei pegar as que pareceriam mais críticas ao abominável cenário da medicina do capital. Já deixo aqui no começo um esboço de uma crítica a este modelo de medicina, escrita por meu camarada Gilson Dantas, que converge com o que penso. É claro, a crítica à medicina do capital é extensa, profunda, e vou esboçar aqui mais algumas coisinhas.

A normalidade e a psicopatologia: horizontes estreitos da fenomenologia

A primeira mesa que vi falava sobre aspectos, digamos, mais "teóricos", alcançando aquele ponto restrito em que alguns poucos psiquiatras se preocupam em teorizar. A maioria dos trabalhos acadêmicos não trás nada além de estatísticas e quantidades. Então, a princípio, foi uma boa surpresa que o primeiro palestrante não mostrasse nada disso. O nome da apresentação, em tradução livre, era "rumo a uma definição das desordens mentais: questões conceituais". Como pontos mais progressistas, havia o questionamento de que os psiquiatras não estão nem aí para as definições de doença mental (sim, pasmem: aqueles responsáveis por tratar as doenças mentais NÃO ESTÃO NEM AÍ PARA PENSAR O QUE SÃO AS DOENÇAS MENTAIS!!!)

Parênteses: como funciona a medicina psiquiatrica padrão

O artigo do Gilson acima citado fala bem sobre isso: de fato, quem dá a letra da maioria das decisões tomadas pelos médicos são os laboratórios. Há uma função essencial destas empresas cumprida pro profissionais chamados de "propagandistas". Estes são tipo os lobistas do corpo a corpo da multibilionária indústria farmacêutica. Sua função é peregrinar pelos consultórios particulares enchendo a cabeça dos médios de pesquisas patrocinadas pelos laboratórios para os quais trabalham que, de maneira muito "isenta e imparcial" (afinal, não é assim que nos dizem que a ciência procede?) "provam" que tal remédio no qual se investiu alguns milhões é a melhor cura para a doença X, e nada poderá ser melhor do que ele. Mas não se engane, os milhões investidos em pesquisas e desenvolvimento não são nada perto da verba destinada à "divulgação". Então, por via das dúvidas, caso estas maravilhosas pesquisas não os convençam, os propagandistas estão com ser arsenal mais poderoso: um grande estoque de presentes, bajulações e mimos baratos, caros e caríssimos para agradar seus clientes. Para que vocês não duvidem de quão longe vai isso, vou dar um singelo exemplo: viemos ao congresso eu, meu pai, meu irmão e sua namorada. Meu pai pagou minha passagem e minha inscrição no congresso e eu barganhei com o diabo para poder vir à Argentina conhecer de perto o PTS, prometendo comparecer mais ou menos ao congresso. Mas ele só pôde se dar ao luxo de pagar minha passagem e a nada amistosa inscrição, como forma de tentar me persuadir a voltar para o maravilhoso mundo da medicina, porque um propagandista simpático conseguiu que todas as outras passagens e inscrições fossem bancadas pelo laboratório para o qual trabalha! Entre outras coisas, já assisti uma palestra com ele sobre TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) no Hotel Mercure em São Paulo, com direito a um jantarzinho supimpa e um livrinho sobre esta doença. Tudo na conta do laboratório que produz a Ritalina, único remédio para este diagnóstico um tanto quanto suspeito, mas que é uma tremenda doença da moda. Quão isento é o diagnóstico do seu psiquiatra? Aquele mesmo que não se importa com definições de doença mental e recebe agrado de propagandistas que lhe trazem pesquisas patrocinadas por laboratórios? Pensa aí...

(Fecha parênteses, voltemos ao psiquiatra "filósofo" da conferência...)

Bom, entre os outros aspectos progressistas, ele disse o óbvio, mas que para nossos médicos que pensam com o cérebro dos propagandistas não é tão óbvio assim: o conceito de "doença mental" (em inglês ele usava o termo "mental disorder") é carregado de valores morais, culturais e sociais! Pra quem é marxista, chega a ser bizarro pensar que alguém precisa ir a um congresso ouvir isso! Mais uma obviedade progressista: as doenças não são nem apenas biologicamente determinadas, nem apenas socialmente construídas, mas são uma combinação destas coisas. Esta aí até dá polêmica com um monte de psiquiatra! Em seguida ele questionou os diagnósticos do famoso e aberrante "manual" de psiquiatria adotado universalmente, o DSM, que está em sua quarta edição e logo terá a quinta. Acreditem ou não, os psiquiatras, além do lixo entuchado pelos propagandistas, também utilizam isto, que funciona assim: você tem uma lista de sintomas para cada doença, e se o paciente atinge um certo número de sintomas da lista: BINGO! Ele tem a doença! Tipo um "Cheklist"!
Daí, depois de criticar a definição ridícula do grande manual sagrado da psiquiatria, ele deu sua definição pela positiva. Não era das piores. Incluía a "interferência em atingir objetivos pessoais" e "um comportamento ou crença não sancionado culturalmente". O mais progressista, a meu ver, foi admitir que é uma questão cultural, social e, portanto, (ainda que ele não tenha colocado neste termo) histórica. O outro ponto progressista foi quando ele discutiu a intensidade dos sintomas, o "cut point", o limite entre o "normal" e o patológico. Admitiu, coisa que poucos psiquiatras fazem, que no fim das contas é arbitrário, que não há como não ser.
O cara que veio em seguida mostrou a tosquice total do método científico da nossa medicina. É o que se chama de "evidence-based medicine", a medicina baseada em evidências. É a miséria da fenomenologia: os psiquiatras vêem o que está diante do nariz deles. E o cara falava sobre ansiedade, sobre transtornos e como diagnosticá-los. Inovando, mostrou um gráfico, em que muita ansiedade era patológico, e muito pouca era patológico, fazendo uma bela curvinha em seu powerpoint. Brilhante!

O ápice da miséria desta perspectiva imbecil, a fenomenologia, um tipo de empirismo mais "sofisticado", se demonstrou com toda a clareza na mesa seguinte que assisti, cujo nome era "Psiquiatria, religião e espiritualidade: aspectos clínicos". O cidadão que abriu fez uma fala de que a psiquiatria sempre estigmatizou a religião (verdade) e que era hora de mudar a relação que tinha com esta (verdade também). E daí foi de uma merda à outra, fazendo uma apologia da religião dizendo que tanto ela quanto a psiquiatria "querem o bem" e que era hora de "trabalharem juntas para o bem comum"!!! O que leva a tamanha barbaridade ser proferida por um "especialista" em uma mesa de congresso? Simples: o pragmatismo míope do seu método epistemológico e terapêutico. A apresentação a seguir, de um brasileiro, demonstrou exatamente o que leva a isto. Falava sobre religião e alcoolismo no Brasil, e demonstrava com seus diversos números, estatísticas e quantidades (lembrem-se do ditado imbecil: os números não mentem) que pessoas religiosas tem menos problemas de alcoolismo. ORA, QUEM DIRIA?!? O sensacional é que o estudo dele se detém exatamente aí, não vai um milímetro além. O que importa, pra esta abordagem tacanha, não é o que, como funciona, o que significa. O que importa é que funciona! Só faltou ele dizer que é bom prescrever religião pros pacientes!

E será que esta merda é o melhor que este congresso tem a oferecer? Ninguém tem uma visão um pouco menos imbecil?!? Milhares de psiquiatras e nada de bom a dizer? Calma! Há algo um pouco melhor, mas antes...

Intervalo 1: a burocracia sindical argentina tenta lavar sua cara




Eis que no fim da primeira mesa ouço um longínquo "Bum! BUM! BUM!" e me pergunto "Que pása?" Será que há uma apresentação de dança? E eis que à porta do Hotel vejo meia dúzia de gatos pingados da Associação dos Agentes de Propaganda Médica (Sim! Isso mesmo! O sindicato daqueles propagandistas que mencionei lá em cima!) fazendo isso aqui. Estão batendo uns bumbos descompassadamente e dando uns panfletos pra quem está por ali. Em seu uniforme do sindicato está ostensivamente colocado o símbolo da CTA, uma central sindical dominada pela burocracia peronista. Nesta matéria sobre sua manifestação no site, cinicamente dizem: "La medida de fuerza será llevada acabo con una marcha y escrache donde se no se descarta la interrupción de las propias actividades del Congreso de Psiquiatría auspiciado por la industria farmaceutica." HÁ! Até parece! Seria sensacional se levassem a sério suas próprias palavras, causando no meio de um congresso internacional! Seria facílimo fazer isto e o efeito seria estrondoso! Mas é óbvio, é pura demagogia.
A causa de seu ato é mais do que justa: demissões, práticas antissindicais, péssimas condições de trabalho. Mas se sua intenção não era fazer nada de efetivo, por que estavam lá panfletando? (diga-se de passagem, fui até eles, pedi seu panfleto, li e fiquei ali parado, com um crachá do congresso. Ninguém se deu ao trabalho de trocar uma palavra comigo sobre o que estavam fazendo. Só no bumbo descordenado). Estavam ali porque de uma forma ou de outra, o maravilhoso fenômeno do sindicalismo de base pressiona as burocracias a darem respostas às suas bases. Precisam fingir que organizam mobilizações e lutas, porque os trabalhadores vêem o que acontece na Kraft, no metrô, na Pepsico, em Zanon, na Disco e em tantos outros lugares. Pra saber mais sobre esta impressionante organização dos trabalhadores pela base, contra a patronal e as burocracias, recomendo ver o site do Nuestra Lucha, o jornal que o PTS impulsiona junto com os trabalhadores independentes do sindicalismo de base.
Dá o que pensar a burocracia sendo forçada a organizar este tipo de coisa, mesmo que seja um ato tão tosco que foi muito parecido com uma propaganda de um laboratório que teve na hora do almoço (com a diferença que na propaganda as pessoas sabiam tocar os instrumentos adequadamente). Quando há luta de classes, a potencialidade de uma política de exigência e denúncia a partir de uma localização estratégica no movimento operário é imensa...




Intervalo 2: passeando no maravilhoso shopping center da saúde mental

Como podemos ler na notícia do sindicato, o congresso é "auspiciado" pela indústria farmacêutica, como tudo o mais que os médicos fazem nesta vida (até as festas da medicina da USP, com chopp de graça, são patrocinadas pelos laboratórios). Isso quer dizer que os corredores do congresso são um grande mercadinho, tipo uma feira de rua mesmo, com cada barraquinha (estande) cheia de propagandistas vendendo seu peixe. Alguns pôsteres anunciam atividades no congresso que vão falar dos remédios. E, como não podia deixar de ser, tem os presentinhos. Depois do almoço hoje fui numa das salas onde ficam concentrados dezenas de standes (além dos que ficam em TODOS os corredores). Tomei um café por conta de um laboratório, ganhei uma destas garrafas de água (destas de atleta) de outro. Depois, usei a internet em um terceiro. Ainda ganhei de meu pai um caderno, uma caneta, um porta-lápis, um marcador de livro e uma caneta marca-texto. Amanhã, acho que vou levar uma sacola pra recolher tudo e depois quando voltar pra São Paulo abro uma barraca de camelô...

Perspectivas menos sombrias: psiquiatria transcultural (ainda hacé falta el marxismo!)

Mais pro fim do dia, pelo menos tive uma esperança de que nem tudo é horror. Fui numa mesa mais acalentadora com o título de "Efeitos duradouros do colonialismo na saúde mental de povos pós-coloniais". Muito interessante, depois vou explicar melhor pq estou já ficando com muito sono, mas o lance é pensar como os diferentes contextos culturais afetam a perspectiva psiquiátrica. Porque a perspectiva fenomenológica é tão cretina que sequer consegue pensar em algo tão elementar quanto isso! A tal psiquiatria transcultural tem florescido muito no Canada, um dos poucos redutos em que ainda sobra algo do estado de bem estar social e que há um influxo imenso de imigrantes e refugiados. Houve uma apresentação sobre a psiquiatria e os povos originários da Australia, uma sobre o conceito de paranóia cultural e o diagnóstico equivocado de esquizofrenia em pacientes negros nos EUA e uma sobre imigrantes negros no Canada. Muito interessante, mas vou desenvolver isto em outro post porque estou cansado (o facebook me distrai muito!). Este pedaço foi o filé do primeiro dia, e vai dar pano pra manga, mas quem sabe isso não incentiva as pessoas a voltarem para ver este blog com mais frequência (e seu autor a escrever com mais frequência!).

domingo, setembro 18, 2011

Diário da Argentina: 5 anos sem Julio López!



Consegui pegar o 150 na Avenida Santa Fé depois de rodar um pouco que nem tonto e perguntar para algumas pessoas. O guia de Buenos Aires que me foi dado pela camarada Patricia, trabalhadora da indústria alimentícia que conheci ontem na festa, me ajudou bastante. Não tenho nada a reclamar dos meus camaradas do PTS, que me receberam todos muito bem, mas sem dúvida noto uma diferença da proximidade que os brasileiros costumam ter. Sempre fiz pouco caso disso, como se fosse uma conversa pra boi dormir, um destes mitos nojentos que eu colocava no mesmo bojo de comentários reacionários sobre a sexualidade exacerbada das brasileiras e coisas afim, de estereótipos a serem rechaçados. Mas não se pode negar que há um traço cultural que nos influencia, ainda que eu, em geral, me considere um ponto fora da curva por minha timidez e antissociabilidade crônica. Daí que mesmo na festa tive longos momentos de isolamento e observação de canto.
No começo da festa o camarada Daniel Romero, o delegado demitido da Disco, foi muito legal me apresentando a todos; ele parecia ter bastante orgulho de apresentar um camarada da Fração Trotskista do Brasil - em especial aos companheiros independentes da nossa agrupação no comércio - e eu o entendo porque sinto o mesmo: acho incrível poder pensar na potencialidade de todos nós, em cada país que estamos, refletindo, atuando, conspirando contra o capital e golpeando a um só punho embasados em nossa estratégia e nosso programa que são fruto de milhares de cérebros e corpos dedicados ao mesmo propósito. Por mais que sejamos tão pequeninos perto da necessidade de nossa classe e da luta que enfrentamos, acho incrível esta potencialidade que existe, e sempre que penso nisto sinto minhas forças renovadas para continuar a lutar pela construção do partido mundial da revolução, ou seja, para que possamos voltar a ter a Quarta Internacional.
A companheira Sole, da agrupação "comercio despierta", também foi muito legal tentando me forçar a aprender a dançar, inclusive as músicas de meu próprio país que sempre desprezei. Infelizmente, creio que apenas a decepcionei em relação à sua capacidade de ensinar e também à tradição da "ginga" brasileira. Na verdade acho curioso como eu posso ser tão tosco para dançar, considerando que sempre gostei muito de tocar instrumentos musicais e acho que isso me dá um ritmo relativamente apurado. Acho que é mais um efeito colateral da timidez.
Mas, enfim, estou divagando. O ponto é que a camarada Patricia me ajudou e eu consegui pegar o ônibus 150 que parava em frente ao Congresso Nacional, de onde sairia o ato no dia em que se completam 5 anos de desaparecimento do companheiro Julio López. Este foi um companheiro que havia desaparecido durante a ditadura e reapareceu, era uma testemunha chave em processos contra torturadores e genocidas da ditadura militar, inclusive o chefe da polícia de Buenos Aires. Em 18 de setembro de 2006 foi sequestrado novamente, e até hoje não de sabe seu paradeiro. O governo dos Kirchner nunca se pronunciou a respeito, não faz nada para encontrá-lo e encobre muitos genocidas da ditadura. Há uma seção especial no site do PTS sobre os cinco anos de desaparecimento de Julio López.

Acordei tarde, saí correndo, achando que se chegasse às 16h (a concentração estava marcada para 15:30) estaria muito atrasado. E se eles saíssem?! Nunca mais conseguiria achar o ato!
O transporte público em Buenos Aires assustaria qualquer morador de São Paulo. É privado e subsidiado pelo governo, como em minha cidade natal. Mas para além disso, não tem paralelo. As tarifas de ônibus variam de acordo com o trajeto, chegando a um máximo de 1,25 pesos (cerca de 65 centavos de real); o metrô, com mais do que o dobro de nossas estações em uma cidade com muito menos gente, custa 1,10. Num domingo, esperei menos de dez minutos pelo ônibus.
Desci em frente ao congresso. Na praça, espalhavam-se rodeando-a as delegações de todas as organizações. As mais expressivas eram as do PTS, PO, IS, MAS e MST. Vi também a do recém-fundado PSTU argentino num canto. Fiquei decepcionado, na realidade, pelo reduzidíssimo número de pessoas, tanto em nosso bloco como em todo o ato. Logo fui conversar com Chipi, o Christian Castillo, nosso candidato a vice presidente pela Frente de Esquerda e dos trabalhadores (FIT). Ele, como sempre, foi muito simpático comigo.
- Ah, pardal! Viu o resultado das eleições? Ganhamos entre os estudantes.
Referia-se ao resultado das eleições para diretor de carreira, na qual estava concorrendo para a de sociologia na UBA, como disse no meu primeiro post. Eu havia visto no facebook, no qual a mafê havia me marcado em um post de Chipi referente aos resultados. Mas vi muito de relance, quando cheguei da festa antes de dormir. Pensando ingenuamente que acordaria antes do horário do ato, teria tempo para ver no dia seguinte. Respondi apenas:
- Não, não vi. como foi?
- tivemos 36,4%, os outros... (não me lembro bem o que disse, mas era coisa de 21% para um e não sei quanto para outro. Em segundo lugar ficaram os autonomistas e em terceiro os kirchneristas. Quem quiser ver alguns dos resultados, que no entanto não tem este especificamente, os companheiros do PO publicaram aqui no facebook)
De fato, ganhamos com folga entre os estudantes, o que mostra um ressurgimento da esquerda na sociais da UBA. A FIT tem dado um novo destaque a nossas ideias, e tem se mostrado uma tática completamente acertada, dando uma grande lição tanto aos ingênuos que pensam que os revolucionários não devem participar nas eleições como, principalmente em nosso caso brasileiro, ao miserável eleitoralismo de partidos como o PSOL e até dos companheiros do PSTU que rebaixam seu programa para "dialogar com as massas".
Enfim Chipi, obviamente, estava muito ocupado e não pode ficar muito tempo falando comigo, mas deixo-me dizendo:
- Não viemos com o partido todo, apenas uma delegação.
"Bom - pensei, tentando me consolar de ver apenas cerca de 50 camaradas por ali - os camaradas devem ter tido um bom motivo, talvez, para dar tão pouco peso a este ato." Mas a verdade é que não me convenci: fiquei com uma enorme pulga atrás da orelha pensando se não estávamos nos adaptando às lutas de calendário e ao rotineirismo da esquerda, tratando este ato dos cinco anos de desaparecimento de Julio López como mais um ato sem importância no qual devíamos aparecer para "cumprir uma obrigação". Além disso, parecia um velório. Camaradas parados, conversando entre si, sem canções, bandeiras enroladas e enfiadas no caminhão de som. Conversei um pouco com Patricia e com companheiros que vi na festa ontem, mas guardei minha inquietação para mim mesmo.

Algumas horas depois aprendi a mesma lição do dia anterior pela segunda vez: os argentinos tem um ritmo próprio. O bloco do PTS, como todo o resto do ato, cresceu assustadoramente. Avalio, de onde eu estava, que tínhamos lá umas quase 400 pessoas no nosso bloco. Camaradas meus da ler-qi já me contestaram mais de uma vez por minhas estimativas elevadas, então deixemos por 300. No ato inteiro eu diria que tinham umas 2000 pessoas. fiquei à frente, próximo a nossa bandeira de vanguarda, imensa, carregada com dificuldade por três pessoas fortes que seguravam imensos bambus e enfrentavam o forte vento de Buenos Aires. Todas as organizações grandes levam uma destas, na foto abaixo podemos ver as três da FIT enfileiradas lado a lado:



Carreguei uma bandeira do PTS/FIT de fazer inveja a nossa pequeninas bandeiras da LER-QI. Estive o tempo todo perto de um bloco de camaradas secundaristas e universitários que com certeza eram os mais animados do ato. Cantamos contra a ditadura argentina, seus resquícios e a cumplicidade do governo de Kirchner. Minha memória tosca tenta reproduzir algumas, sem dúvida as mais fáceis:

- A los milicos assassinos les salvaran sus amigos: la democrácia peronista y radical. Pero te cuides milico genocida de la justícia obrera y popular.

- Ahora, ahora, resulta indispensáble: aparición con vida e castigo a los culpables!

Tinha outras que lembro e esqueço a todo momento. Mas é incrível como aqui não se fazem apenas palavras de ordem, mas realmente marchas e músicas com cantos afinados e baterias apuradas, com letras com conteúdo político e programático de fazer inveja a panfletos toscos de grande parte da esquerda brasileira.



Enfim, já me alonguei muito e amanhã tenho que acordar cedo. Meu acordo com meus pais para vir para cá é que iria ao congresso mundial de psiquiatria, e agora vou ter que dividir meu tempo entre isso e as atividades políticas. Encerro deixando abaixo o manifesto lido na Praça de Maio no encerramento do ato, acordado entre mais de cem (!!!) organizações políticas, sindicais, estudantis, de direitos humanos, etc, etc.


Se cumplen hoy 5 años de la desaparición de nuestro compañero Julio López.

5 años de impunidad, 5 años de encubrimiento y silencio oficial.......

Una vez más, recordamos cómo, ante su ausencia y a pesar de la incredulidad, salimos a las calles a exigir su aparición.

La silueta de su rostro recorrió la argentina en multitudinarias marchas exigiendo su aparición con vida y el castigo a los responsables de su secuestro. Su imagen, testimoniando en el juicio del genocida Etchecolatz, se convirtió en el emblema de esta etapa de lucha contra la impunidad y por la aplicación de justicia a los genocidas.

A partir de ese momento y durante estos 5 años, la respuesta del gobierno nacional y provincial a nuestras demandas fue la descalificación y el silencio. Poblamos las calles con nuestro reclamo y recorrimos cuanto despacho oficial y judicial era posible.

Exigimos al gobierno una y otra vez, que impulsara la acción necesaria para dar con el paradero de Julio y con los culpables.

Sin embargo, el gobierno que se autoproclama defensor de los derechos humanos, no consideró de su incumbencia ocuparse del tema.

Por eso hoy, a 5 años , convocados por el Encuentro Memoria , Verdad y Justicia, .estamos una vez más en la Plaza, reafirmando que:

Acusamos al gobierno nacional y provincial de encubrir la desaparición, los responsabilizamos de usar el silencio para impulsar el olvido que sostiene la impunidad.

Los acusamos de haber renunciado a su responsabilidad de buscar y encontrar a nuestro compañero Julio, y a su obligación de detener , juzgar y condenar a los responsables..
Lo hacemos concientes de que esa política de impunidad es coherente con la política represiva que implementa hacia la protesta social.

La mano de obra genocida, así como sus discípulos presentes en las fuerzas de seguridad , están dispuestos y son utilizados para reprimir la protesta social.

El poder judicial demuestra palmariamente en este caso como es capaz de actuar cuando está al servicio de los sectores dominantes. La causa judicial de Julio es un ejemplo descarado de las maniobras de impunidad y encubrimiento de las que son responsables jueces y fiscales subordinados al poder político o a las fuerzas represivas.

Una vez más el discurso de derechos humanos del gobierno es un doble discurso. La realidad desmiente sus afirmaciones.

La anuencia oficial, del gobierno y de la justicia, con la desaparición de Julio y la impunidad que lo rodea , han sido la condición que facilitó el asesinato de Silvia Suppo, los secuestros de Pouthod y .. y las centenas de amenazas a testigos y querellantes en los juicios contra los genocidas.
Jamás se investigó a la Bonaerense, que en todos estos años, y en las más diversas situaciones , demuestra ser una verdadera organización mafiosa.

Hoy, a 5 años de la dolorosa desaparición de Julio, estamos firmes en la Plaza para ratificar la lucha popular contra la impunidad, para denunciar el encubrimiento, para poner voz al silencio de los de arriba, para reclamar justicia.

Y , junto a nuestros 30000, está Julio con nosotros, exigiendo cárcel común y efectiva a sus secuestradores, , a todos los represores y asesinos, a todos los genocidas.

Compañeros y compañeras: Levantamos aquí las banderas de la lucha por la memoria, por la verdad, por la justicia . Son las banderas de nuestra responsabilidad histórica con los compañeros detenidos desaparecidos y con Julio López.

Por ellos y por nosotros también levantamos las banderas del derecho inalienable y el compromiso a luchar por vivienda, trabajo y salario digno para todos, por educación y salud para nuestro pueblo, contra la entrega de nuestros recursos naturales, contra el pago de la ilegitima y usuraria deuda externa, contra la depredación ambiental de las empresas imperialistas. Por un país sin opresión, sin explotación. Un país justo por el que ellos dieron su vida.
Por eso reinvindicamos y nos sentimos partícipes de las puebladas, movilizaciones; cortes de ruta, huelgas, ocupaciones de fábricas, de tierras y de edificios públicos, escraches a genocidas, acampes, piquetes, que son la expresión más genuina de la disposición a la lucha y de la rebeldía popular .


Porque defendemos el derecho a luchar , estamos también aquí hoy denunciando al gobierno nacional y también a Macri y a los gobiernos provinciales, por la brutal criminalización de la protesta social y por la impunidad, de las que son responsable. Los denunciamos por el asesinato de luchadores populares.

Con dolor y con bronca tenemos que decir que en el último año fueron asesinados por las fuerzas represivas y por las patotas 14 de ellos, y que durante este gobierno , la respuesta a la ola de luchas populares que recorren el país ha estado marcada por represión y tortura. ; Que el gatillo fácil, instrumento de criminalización de la pobreza, sigue golpeando a nuestros jóvenes.

Denunciamos también que la impunidad de los responsables políticos y materiales de los asesinatos a nuestros hermanos se garantiza una y otra vez, mientras se persigue a los dirigentes obreros y populares a través de procesos judiciales, que se abren y reabren una y otra vez.

, Alzamos nuestra voz reclamando juicio y castigo por los chicos de Bariloche( nombres) , por Mariano Ferreira , por Roberto López........

Como el pueblo sí tiene memoria, estamos con Petete Almirón, Darío y Maxi, Cristian Ibáñez y Cuellar, Carlos Fuentealba, Lázaro Duarte.

Diário da Argentina: Na Disco-Jumbo há ditadura! Não à demissão de Daniel Romero!

Chego a um casarão velho, uma imensa árvore no jardim debruça-se em direção à calçada. O portão externo aberto me sinaliza que devo estar no lugar certo, apesar do imenso silêncio e nenhum movimento por ali. Entro e subo as escadas da frente. A plaquinha discreta na frente me confirma que cheguei: Instituto del pensiamiento socialista - Karl Marx. Logo ao lado um pequeno bilhete sobre a campainha diz: não está funcionando - bata na porta. Contudo, antes que eu o possa fazer, vejo que algumas pessoas surgem no corredor andando em minha direção. Espero que abram a porta e me perguntem o que quero.
- Sou do Brasil, da LER-QI, vim para a festa.
- Ah, da ler-qi! Chegou cedo, vai poder nos ajudar.
"temprano"? Penso que os argentinos têm realmente hábitos diferentes dos nossos. Andei a passos apressados quase vinte quarteirões desde o apartamento que meus pais alugaram, chegando mais de onze horas com medo de que poderia ser tarde demais. No Brasil as festas que fazemos na Casa Socialista raramente passam da meia-noite, tanto por conta das possíveis multas como por conta do horário de trabalho, reuniões e estudo da militância e demais convidados. Depois de me receber, um dos anfitriões do PTS me explica: sim, chegou cedo. A maioria das pessoas vai chegar por volta de umas duas da manhã. Ajudo alguns preparativos. Têm luzes, mesa de som. Fazem cartazes com os preços: Fernet com coca-cola, 25 pesos; cerveja (brahma, uma de nossas multinacionais que vai inundando o continente) 15 pesos.
Converso com um camarada mais receptivo e simpático que vem me perguntar quando cheguei e quando vou, essas coisas. Descubro que é Daniel Romero, e que a festa é por sua causa: é delegado de base dos trabalhadores do comércio, e foi despedido por perseguição política. Trabalha na Disco, um mercado que foi comprado pela Jumbo, uma empresa chilena que já vem perseguindo os trabalhadores e sua organização sindical há algum tempo. Depois, lendo o boletim, descubro que já deixaram os delegados sem salário, que proíbem os funcionários de ir ao banheiro e que não fornecem refeitórios a eles. A festa é para arrecadar fundos para a luta dos trabalhadores, impulsionada pela agrupação Comercio Despierta (PTS e independentes).
A festa começa tão vazia que penso que será um fracasso completo. Algumas horas depois descubro que meus camaradas estavam certos: as pessoas começam a chegar às duas. Antes disso, Sole, também trabalhadora da Disco, foi a pessoa que me tirou do isolamento completo: insistiu para que eu aprendesse a dançar com ela, entre músicas bregas argentinas e lixo exportado por nós: ouvi na festa até a boquinha da garrafa. A discotecagem desta parte da festa ficou por parte de Diego, outro delegado de nossa agrupação independente. Conversei com camaradas do PTS sobre estas músicas, em que coincidiram comigo que eram terríveis e machistas. Mais uma mostra, dentre tantas outras, que mesmo entre a vanguarda da classe trabalhadora, a discussão sobre ideologia, arte e cultura é premente.
Mais de cem pessoas compareceram, e conheci camaradas sensacionais de diversos lugares. De Santa Cruz, da indústria alimentícia. E preparo-me para amanhã ir ao ato pela reaparição de Júlio López. Deixo-os com alguns vídeos da luta dos companheiros do comércio contra a demissão de Daniel Romero.

No al despido de Daniel Romero

Daniel Romero, delegado despido de disco, contra el desafuero de Victor

sábado, setembro 17, 2011

Diário da Argentina: nas eleições da UBA (Universidad de Buenos Aires)

- Vou para a faculdade de ciências sociais da UBA. - digo ao motorista no meu espanhol tosco. Funciona no começo, ele nem percebe que sou "gringo".
- A que fica no bairro X?
Meu disfarce não resiste ao primeiro teste. Eu sei o nome da rua, e até como chega lá, mas não o bairro. Afirmo que é na Marcelo T. de Alvelar e revelo que "no soy de acá".
- Sim, sim, é logo ali. Política?
Surpreendo-me.
- Sim, como sabe?
- Estão acontecendo eleições em todas as faculdades. - mostra-me os prédios quando passamos. - aqui é a odontologia, ali o direito (ou era medicina?). A Sociais é a mais politizada.
Vendo no google, antes de sair, eu descobri que tive sorte. Tinha receio que fosse difícil encontrar os meus camaradas do PTS, nosso partido na Argentina, o maior de nossa organização internacional. Mas no e-mail que recebi dizia que havia eleições para os centros estudantis, e procurando no google descobri que estava há meia hora a pé da Sociais. Ia andando, mas além do cansaço da viagem, minha ansiedade por chegar logo me fez optar por pegar um táxi. Agora que estava conseguindo, apesar de meu portunhol e de minha escassa habilidade para conversar, falar com o motorista, não me arrependi. Ele me ensinou como voltava de ônibus, me deu o troco em moedas para pegá-lo, afirmou conhecer o PTS e me disse que naquele dia havia uma marcha pois completavam-se 35 anos da "noche de los lapices" artigo do PTS sobre os 35 anos da "Noche dos lapices" e artigo do PTS há 33 anos da "noche". Quando lhe contei que era da organização irmã do PTS no Brasil, disse-me que conhecia o PTS. Deixou-me à porta da faculdade dizendo:
- Buena sorte com tus compañeros! És preciso luchar!
Impressionante o que vi quando cheguei lá. À porta, dezenas de cartazes, faixas, militantes de todas as chapas. Entrei procurando algum camarada. A faculdade estava tomada pelas eleições, num clima de debate e politização que só havia visto antes nas eleições presidenciais de 89 no Brasil. Perguntei para um estudante que panfletava, que logo me levou aos camaradas do PTS, que imediatamente me receberam calorosamente quando disse que era militante da LER-QI.
Gastón, meu camarada que conheci por lá, foi quem mais me guiou pelo mundo desconhecido das eleições da sociais. Vi os corredores apinhados de gente por todos os cantos, todas (e quero dizer realmente TODAS) as paredes estavam preenchidas de cima a baixo pelos "afiches" das distintas "listas" (chapas) que concorriam. Não sei quantas haviam, mas Gastón me disse que as principais eram três: o kirchnerismo (governismo), o autonomismo estudantilista, que é uma espécie de esquerda reformista (o grupo que é seu principal expoente, "La Mella", surgiu anos atrás de um racha à direita de um dirigente estudantil de nosso partido); e, por fim, a nossa chapa, da esquerda revolucionária. Somente nossa chapa era composta por oito grupos diferentes: PTS, PO, IS, MAS (troskos), 29 de Mayo, PRISMA (maoístas envergonhados), FEL (anarquistas) e El Viejo Topo (estudantilistas). Sei lá quantos milhares de outros compunham cada chapa. Vi nos cartazes, eram muitos.
Contrariamente ao que parecia pelos corredores entulhados de gente, foi-me dito que era um dia vazio: quase todas aquelas pessoas eram das chapas. Mesmo dentro das salas de aula todas as paredes eram forradas de cartazes. Era o último dia de eleição, e estavam votando também os professores, pois as eleições eram unificadas com o conselho diretor de cada faculdade e com as direções de cada carreira (cada curso dentro das faculdades). Christian Castillo, "Chipi", nosso camarada que é professor de sociologia e é candidato a vice-presidente pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) era também candidato a diretor da carreira de sociologia. Ganhou de longe entre estudantes, mas o voto destes vale muito pouco: algo como vinte, sendo o dos funcionários 70 e dos professores 100. Impressionante como a própria estrutura de poder da universidade é milhões de vezes mais democrática que aqui, disse aos meus camaradas.
- Sim, sabemos que é muito mais democrática que nos outros lugares, mas isso não nos impede de fazer um grande barulho para protestar.
E aqui no Brasil, o movimento estudantil adapta-se à miséria completa. Pedem no máximo diretas para reitor. Quando levantamos o programa de dissolução do Conselho Universitário e constituição de um governo tripartite com maioria estudantil, chamam-nos de loucos...
Meu espanhol porco me atrapalhou muito (entendia tudo quando falavam comigo, mas quase nada quando falavam entre si ou quando cantavam), mas tudo o que vi foi suficiente para me deixar assombrado. Óbvio que já sabia o quão diferente é a situação política daqui e do Brasil, onde vigora uma passividade acachapante. Mas ver de perto nunca é o mesmo.
O que mais me espantou, para além da quantidade e da qualidade dos militantes, da quantidade de propaganda política e de votantes, foi a moral que têm. E isto não apenas de meus camaradas, mas de todos, inclusive o governismo! Nas eleições da faculdade de sociais votam aproximadamente 8.000 estudantes (já é mais do que para o DCE da USP. Hoje li uma notícia sobre as eleições de ontem (com um caráter bem menos reacionário e superficial do que nas de qualquer jornal brasileiro) no jornal "La Nación", que afirmava que em todas as votações foram cerca de 300.000 estudantes!!!
Depois de terminada as votações, formavam-se blocos de dezenas de estudantes das distintas chapas e cantavam-se palavras de ordem de confronto. No auge do tensionamento estivemos próximos de um embate físico com os governistas (eram a chapa mais à direita nas eleições). Infelizmente meu espanhol limitou muito não apenas meu entendimento como minha participação, mas as poucas que entendi cantei a plenos pulmões com meus camaradas. Os governistas nos provocavam com canções despolitizadas que diziam que o PTS é "a fração da fração da fração". Respondíamos:
- Vai acabar, vai acabar! A burocracia sindical!
Lembrávamos a morte de Mariano Ferreyra, companheiro do Partido Obrero assassinado pela burocracia sindical kirchnerista durante a luta pela incorporação dos terceirizados nas ferrovias (o livro editado pela LER-QI sobre a greve das terceirizadas da USP em 2005 "A precarização tem rosto de mulher" foi dedicado a ele). Cantávamos:
- E Mariano Ferreyra nós vamos vingar, e Mariano Ferreyra nós vamos vingar, com piquete e a greve geral!
Denunciávamos o caráter antipopular e antioperário do governo de Cristina Kirchner cantando:
- Kirchnerista, que popular: é o governo com mais presos por lutar!
Há uma que gostei muito, da qual já havia ouvido uma variação cantada pelos trabalhadores da Brukman:
- Universidad a los trabajadores! Y a que no le gusta: se jode, se jode!
Havia uma infinidade de outras músicas, muito mais longas e complexas, que infelizmente não sei reproduzir (certamente é daí que herdamos noss hábito na LER-QI de fazer palavras de ordem muito mais complexas que a esquerda brasileira. Já cheguei a ouvir de uma amiga do PSTU que nossas palavras de ordem eram impossíveis de aprender rs).
A faculdade havia sido dividida em três blocos: na frente, na rua, ficaram os governistas; dentro, "nosotros, la izquierda"; no estacionamento estava "La Juntada", a esquerda autonomista. Esta situação durou por longas horas com os camaradas cantando incansavelmente contra os governistas. Depois, saímos ao estacionamento, onde, debaixo de uma fina chuva, os camaradas desenrolaram as bandeiras e passaram a se enfrentar com cantos com "La juntada". Eram incansáveis! Eu, exausto, acabei indo para casa, sabe-se lá até que horas ficaram.
Amanhã é dia de marchar contra a impunidade e o acobertamento do governo ao desaparecimento de Julio López, lutador que testemunhava contra os crimes da ditadura e está há cinco anos desaparecido Chamado do PTS ao ato amanhã

sexta-feira, setembro 09, 2011

LER-QI e Bloco Anel às Ruas no Colóquio Marx e Marxismos

Convido todos a participarem dos debates nas comunicações dos militantes da LER-QI no Colóquio Marx e Marxismos na C. Sociais da USP:

12/09:
14h: Fernando (eu): Literatura e Ideologia: a imposição de valores políticos a partir de valores estéticos

13/09:
11h: Daniel: Entre o gradualismo lulista e as contradições estruturais do país: que “projeto de país”?

14/09:
9h: Nat: Educação Chilena: impacto do neoliberalismo e resistência estudantil
16h: Edison: A dialética de meios e fins no marxismo: Lukács e Trotsky
Leandro: As crises capitalistas em Trotsky
Thyago: Surrealismo e trotskismo: o combate à cultura proletária

15/09:
9h: Thiago: Desafios do Marxismo: práxis e precarização
11h: Letícia: Revolução Burguesa e Colonialismos: uma visão marxista
16h: Bruno: A dinâmica de classes da “primavera |rabe” e o fim do neoliberalismo
André: O ataque reflexo da esquerda: o fascismo no século XX

16/09:
11h: DG: A Questão Negra em Florestan Fernandes
14h: ale: Contradições político-econômicas da crise
Iuri: A crise do fetichismo: crise econômica de 2008 e as respostas do marxismo

Também recomendo enfaticamente:

13/09, 11h: Tati: A reorganização sindical no governo Lula: um estudo sobre a Conlutas e a Intersindical

14/09, 11h: Mafê (Bloco Anel às Ruas): A função dos juristas do Largo São Francisco de 1967 a 1969