sexta-feira, julho 14, 2017

Minha parte mais secreta te ofereço
Sem cerimônias, sem adereços
Procuro, inverto, vou ao começo

Tua voz em escritas à distância
Teu rosto, teu toque, palavras entranhas
Despedidas suaves eu peço: que seja só o começo

Essa tarde estranha, essa poeira malsã
Eu não estou só querida solidão
Eu esqueço que eu me lembro disso

Você não está só
Coisas mais estranhas aconteceram, eu sei
Pessoas se apaixonam por vozes, programas
Pessoas sozinhas e loucas até as entranhas
Esse mundo arrancou nossa sanidade
Ao contrário
Nela eu encontro você
Me espere. Me escute.
Respiro nesse silêncio como nunca antes





quarta-feira, julho 12, 2017

Ódio, angústia, ansiedade e esse vazio
Tuas garras no meu peito arrancam um desespero sem fim.

Choro sem lágrimas, sem sangue.

Essa inércia é meu grito ensurdecedor que não se faz ouvir em nenhuma parte.

Estendo a mão. Não sei para onde.

Estas palavras estúpidas não me salvam. Não salvam nada nem ninguém.

Nessa vida medíocre só seguimos sozinhos, desolados, tentando à toa ignorar que tudo é silêncio e cinzas.

Que tudo o que existe é só o desespero de inventarmos algo que nos impeça de ouvir o eco de nossa própria voz ressoando nesse abismo.

Eu grito teu nome, mas, como tudo mais, ele não existe.

Escrevo essas palavras para ninguém. Invento meus pensamentos absurdos e finjo saber que não sei de algo que não há.

É isso, essa dor de saber que não há simplesmente nada a ser descoberto. Cada inútil invenção de vida já estava morta, seca, estéril e ressentida antes de sair dos lábios de seu criador. Um farsante como todos os outros. A farsa que é viver, sonhar e rebelar-se contra a própria inutilidade de estar vivo.


Não chego

A tocar, a sentir

Um raio tênue que seja, de luz ou calor

A dissipar esse inverno, essa dor

Que estira meus músculos. Tesos, cansados

A fatiga de gritar contra o vento, a nevasca

Entra gélida pela minha garganta, corta minha voz, meus pedidos

Que jamais foram ouvidos. Teus ouvidos surdos, incapazes de saber

Que onde há uma voz que grita por teu nome, há também um clamor de vida

Uma busca incessante por regurgitar todo esse ódio do mundo, essa grossa e espessa baba

Que nos cobre de nojo, de ódio, de tédio e indiferença. Toda essa merda que você permitiu que tomasse seu coração, que tomasse seu cérebro e te fizesse uma imbecil como tudo aquilo que você jurou combater.

Olho nos teus olhos, pela minha memória, e já não mais te vejo. Alguma vez te conheci, ou você sempre esteve enfiada nessa montanha de lixo que a gente é obrigado a chamar de vida, mesmo sabendo que não é, mesmo sabendo que é a morte que se arrasta por nós, que se arrasta incessantemente pelos anos sofridos que comem e roem cada fio de esperança.

Você já soube alguma vez que no teu espelho se reflete esse monstro? Esse, que você vê lá fora e em mim, mas que nunca, jamais viu que está em você, que está em tudo que toca, que cheira, que sente.

Em tudo que pulsa e que há de morrer. Não, ninguém está impune. Nem eu nem você.

A diferença é que minha morte, minha dor, eu aprendi a dividir, a sentir com o outro, a aplacar meus julgamentos que já há muito tempo não considero impenetráveis, irredutíveis, irrefreáveis.

É essa vulnerabilidade e a consciência dessa dor, da imensa falibilidade de nossos sentidos, de nosso julgamento e de nossas tentativas. É a possibilidade de dividir isso com outras criaturas falhas e imperfeitas, sem ser dominado pelo ódio e pela alteridade impenetrável. É essa, essa pequena brecha de nossa solidão tão abrangente e que a tudo cobre, é o que chamamos de amor.

E foi apenas isso que quis te ofertar. Mas a porta estava fechada, e sempre estará.