segunda-feira, novembro 11, 2013

O movimento estudantil da USP e a triste esquerda que "tem pra hoje"...

Este post é um desabafo. Seu intuito não é fazer uma luta política, afirmar posições, combater equívocos. É um desabafo de alguém que fica puto, que fica cansado. De alguém que escolheu um projeto para sua vida que é uma luta coletiva, dura, contra um inimigo imenso, e que é a única perspectiva para fazer deste mundo um lugar suportável, digno de existência. Se este mundo é uma merda - foi o que decidi há tempos - a única alternativa é tentar transformá-lo. Isto me levou ao marxismo, à militância. E quis o destino que fosse logo no movimento estudantil da USP, que tem lá sua importância, mas que não vem ao caso esmiuçar agora. O que vem ao caso são as cretinices que se colocam nesta mesma USP entre o hoje e este projeto de futuro.

Lembro-me quando entrei na USP. Nunca havia visto um "socialista" de perto. De repente, estava cercado por "socialistas". Eles discutiam violentamente entre eles, e eu, não entendia nada: porque discutiam tanto se defendiam a mesma coisa? Passaram-se anos, e eu descobri uma lição valiosa que o marxismo me ensinou: a prática é o critério da verdade. E isto me ensinou que nem todos os "socialistas" são socialistas de fato. E o movimento estudantil e outras experiências foram me mostrando que a esquerda que temos hoje, como não poderia deixar de ser, herdou as derrotas da classe trabalhadora e as incorporou como um legado perverso em sua estratégia, seu programa, sua prática política e mesmo em sua moral. E fez disto o cenário da esquerda que encontrei ao entrar na universidade (que certamente é pior na universidade elitista e racista que é a USP).

Estou participando de mais uma greve entre tantas que já vivi na USP. Deveria ter me acostumado a certas coisas, que conforme vão levando nossa ingenuidade embora, vão deixando lições valiosas. Mas a verdade é que sempre pode piorar. E todo tipo de escrotice que não se espera daqueles que dizem que querem construir um mundo sem opressão e exploração aparece na sua cara. Mentias, calúnias, provocações, ameaças, agressões físicas. Táticas sujas, daquelas que nossos inimigos usam. Mas elas estão dentro do nosso movimento, sendo usada contra nós, que dedicamos nossas vidas, nosso sangue, nosso tempo a mudar o mundo. E quem está nos atacando não é, ou não deveria ser em hipótese alguma, nosso inimigo: são aqueles mesmos "companheiros socialistas" que conheci no meu primeiro ano de USP. Eles nos caluniam, nos ameaçam, e depois negam tudo publicamente, tentando nos demonizar para tornar estéreis nossas posições políticas. Eles nos chamam de seita, mas querem nos isolar forçadamente, querem nos isolar e nos insultar porque nossas ideias têm força. Eles querem que desapareçamos, porque ameaçamos seu "pequeno poder". Eles são ainda tão pequenos, tão débeis, mas estão aprendendo numa velocidade impressionante os hábitos e rotinas da burocracia sindical que deveriam estar combatendo. Me dá raiva, mas também me dá nojo, tristeza. Penso em quantas pessoas eles, que são organizações nacionais, aproximam como uma "referência" de esquerda, de projeto revolucionário. Os piores viram dirigentes, tornam-se cínicos e incorporam estes métodos sujos de "debate político". Os melhores, provavelmente, são os que se desiludem amargamente com aquilo que pensam ser a concretização mais palpável do que gostariam de poder defender, do socialismo, do comunismo. Eles deixam de militar, voltam para a pequenez de suas vidas privadas; como costumamos dizer, eles "quebram". Me encho de ódio ao pensar nestas pessoas, nestas possibilidades desperdiçadas, me revolto ao pensar em quantas pessoas não deixam de acreditar que há uma alternativa para este mundo ao tomar contato com este tipo de prática política degenerada dos nossos "socialistas", que aprenderam muito bem lições de nossos inimigos, como com o stalinismo, que transformas as discussões políticas em calúnias morais. Que impede o debate ao invés de levá-lo até o fim.

Por mais de um mês, eu e centenas de estudantes viemos dando nosso sangue para construir uma luta contra a reitoria e o governo. Alguns de nós porque acreditamos em outra sociedade, ou, no mais modesto dos casos, porque queremos uma universidade menos elitista. E hoje, assistimos relutantes, com o sangue fervendo, nossa luta ser jogada ao vento. Em parte porque nosso inimigo é poderoso. Mas isto, sinceramente, não é o que mais me incomoda. Aprendi a saber que nosso inimigo é poderoso e as batalhas serão duras. O que me irrita de maneira impressionante é o "fogo amigo" dos auto-proclamados "socialistas", que, por terem sido derrotados democraticamente em sua política mesquinha, por verem seu "pequeno poder" ameaçado, preferem lançar mão de sua campanha de provocações e mentiras, de ataques dos mais sujos e nada "socialistas". Porque preferem ver um movimento derrotado para poder tentar jogar o ônus sobre as nossas costas do que seguir firme na luta e fazer um balanço honesto. Passaram a lutar mais contra nós do que contra nosso inimigo comum; abandonaram a linha de frente da luta para "evitar conflitos" com os agressores que eles próprios haviam ameaçado ainda uma hora antes.

Fico puto. Isto que eu queria dizer. Mas, me fortaleço, e sei que meus camaradas também. No fundo, por mais que seja uma merda saber que além de nossos inimigos poderosos teremos que enfrentar nossos adversários e suas mentiras, isto nos torna mais convictos de que nossa estratégia, nossa teoria, nossa moral estão corretas e precisam ser fortalecidas. Se for esta esquerda que vai dar a "alternativa" para os trabalhadores, estaremos fadados a mais uma época de exploração e opressão. Então, precisamos dar outra alternativa, e nos forjamos no "fogo amigo" enquanto nadamos contra a corrente. Mas há outras centenas, talvez milhares, que, vendo de longe, se afastarão do movimento estudantil, talvez de qualquer perspectiva de transformação social. Uma porta de mudança social que se fecha aos olhos de alguns combatentes, que poderiam nos ajudar muito. Um passo atrás na luta. A derrota que a reitoria poderá talvez impôr à nossa luta é ruim; mas muito pior é se há uma outra derrota, fomentada por dentro, que afaste os estudantes deste ambiente fratricida de mentiras e ataques morais. Isto é o que me revolta e entristece. Nossa tradição é bela, é poderosa; quando leio textos de Trotsky, Lenin, vejo a força de nossas convicções, estratégia e teoria. Vejo ali a possibilidade do futuro, e encho-me de força para que faça minha parte para que estas ideias penetrem nas massas e se transformem em força material. Este tipo de problema que enfrentamos hoje é uma coisa mesquinha demais, mas é hoje a lama na qual nadamos na USP, e da qual temos que sair, passo a passo. Para chegar o futuro, precisamos atravessar este triste presente. Como disse Marx, os homens fazem a história, mas não como querem, e sim como lhes é permitido fazer. Façamos, então, porque infelizmente o futuro terá que nascer do material humano que temos hoje. Educá-lo, combatê-lo, aprender com ele. Seguir adiante, apesar de tudo. Nossos mestres enfrentaram coisas piores, e nós enfrentaremos também. Hoje, nos forjamos na luta mesquinha do presente. Nossos ideais nos levarão adiante.