sábado, abril 18, 2020

Logo desvanecerá
devolvidas as partes arrancadas
os navios de volta ao porto
velas recolhidas
sonhos esquecidos

Fecho os olhos
sinto o cheiro
o toque
os sons

Tudo se tornou dor
vergonha
incêndio
cinzas

É difícil quando não se consegue pensar
as coisas todas turvas, a palpitação
as cores, os sons estourados
sobrecarga de sensações
sem controle sobre mim

Desvanecerá?
Desvanecerei
me desfaço em ruínas
ao pó retornará

Essa ilusão ortopédica do eu
esmoreceu suas fronteiras
fagocitou uma fatia de vida
maior do que seus limites,
maior do que poderia abrigar
e agora não consigo reconstruir
os limites de mim mesmo
e o que era eu
espalhado no chão,
em sangue, fezes, miúdos
como as tripas de um animal morto
em sacrifício a um deus pagão

Me vesti com sua glória e amor
não posso encarar essa vida sozinho
estou nu, e longe de casa
foi tudo desperdiçado?
Todo esse amor?

A cada noite choro
ainda acreditando na mentira
te amo até minha morte



Nenhum comentário: