quarta-feira, janeiro 21, 2004

Certo, acho que já foi muito mimimi tosco pra um blog que tem tão pouco tempo. E eu nem tenho me divertido tanto com meu mimimi quanto antes. Acho que perdi a prática. Então, achei que era bom eu arranjar um jeito de ganhar tempo, pra elaborar um mimimi de mais qualidade pros meus leitores. Eu vou postar um conto cujo começo eu já havia postado, mas não cheguei a colocar inteiro. Como ele é muito grande e ninguém vai ter saco de ler ele inteiro de uma vez, e aproveitando que ele é dividido em partes bem pequenas, vou postar uma ou duas delas por dia. Sei que mesmo assim ninguém vai ter saco de ler, mas pelo menos assim eu ganho o meu tempo.
(obviamente, eu acho ele uma merda e por isto não havia postado antes. Só pra deixar claro que eu nunca disse que era bom.)


Rainha de Copas: Senhora dos Farrapos

A luz do dia jogava uma beleza pálida sobre o Palácio de Cristal da Rainha, que estava em seu quarto olhando pela janela. Olhos perdidos no vazio, na imensidão do seu reinado que se estendia lá fora. Um reinado que ela muitas vezes parecia não acreditar que era seu, que parecia não fazer tanto parte de sua pessoa como ela própria parecia fazer parte dele. Mas, ainda assim, ela era a Rainha de Copas, senhora dos pensamentos, corações, desejos, angustias, aflições, alegrias, satisfações, temores, remorsos, intuições, frustrações, belezas e receios de todos aqueles que estavam lá embaixo. E o que ela podia fazer, se achava dentro de si um Coração que parecia estar vazio? Que Rainha poderia ser ela deste modo? Ela deitava-se noite após noite, sonhando com outras coisas. Ela sonhava com um outro lugar, com um Coração Desconhecido. Um que não estava dentro de seu reino, que não fazia parte de seus súditos, que não pertencia àquele lugar. Ela tinha tudo ao seu alcance, mas parecia apenas que queria algo que não podia possuir.
Enxergava os campos lá fora, as vilas, as praças, carruagens, pessoas, animais. Enxergava vidas se estendendo sob o manto de sua presença, sob sua beleza, seu carisma, sua imagem altiva que as pessoas cativavam, dentro daquele Palácio de Cristal. Enxergou a trama montada, todos os fios invisíveis de adoração e devoção que inevitavelmente saíam de todos os cantos e se emaranhavam e se embrenhavam naqueles cantos, chegando, enfim, ao Palácio e à sua pessoa. Mas de algum modo estava tudo em ruínas. Ela era, de uma forma ou de outra, a Senhora dos Farrapos.

Coração de Boneca: Lágrimas Eternas

Sempre lhe disseram que ele estava predestinado a ser um príncipe, a ser adorado, idolatrado e governar o Coração das pessoas. Que seu Destino era deixar aquele reinado da Rainha de Copas e formar o seu próprio, onde seus súditos viveriam cercados de perfeição. Não era à toa que lhe diziam isto. Ele era, autenticamente, um Senhor dos Corações. E por mais que negasse este seu talento, era inevitável que todos percebessem. Mas, ainda pequeno, ele disse não àquilo tudo. Partiu de seu pequeno vilarejo, arrastado por uma corrente invisível que o puxou dia e noite pelas estradas e caminhos sinuosos do Reinado, levando-o cada vez mais para perto do Palácio. As pessoas, que não estavam dentro do seu Coração, não podiam entender ou sentir que ele era mais do que alguém com a singela capacidade de guiar Corações. Ele trazia dentro de si uma ânsia, um desejo de entender aquilo, de entender suas Lágrimas. Pois era assim, suas Lágrimas vertiam-se de maneira incomum. Ele via pedaços das coisas e sentia tudo de uma forma diferente, e para cada vez que isto acontecia seus olhos derramavam mais Lágrimas. E era algo que ele não entendia; ou pelo menos achava que não entendia, mas na verdade, dentro de seu Coração ele conhecia íntima e verdadeiramente o significado de suas Lágrimas, o significado de sua vida. Não houvesse compreendido de alguma forma, teria então aceitado os conselhos de todos à sua volta. Teria feito seu próprio Reino, governado seus próprios Corações, construído seu próprio palácio, cultivado e alimentado sua alegria naquilo. Mas, apesar de ver a beleza dentro dos Corações, de entender aquelas coisas que dizem que só as pessoas como ele podiam fazer, ele via estas belezas com um sentimento estranho. Elas lhe faziam chorar, como todo o resto das coisas. Muitas vezes eram lágrimas de indiferença, muitas vezes eram lágrimas de medo. Ele não queria aqueles Corações, ele não queria governar daquela forma. Não, seu dom tinha outro propósito. Ele era como uma espécie de caçador, procurando com seus olhos de lince, suas Lágrimas de sal, encontrar em meio àquilo tudo uma coisa especial. Ele precisava encontrar, não importava o que fosse.
Assim que ele chegou ao Palácio, guiado por seu Coração de Boneca, procurando um vazio onde ele pudesse ver a imensidão. Virou um guardião, nos portões do Palácio de Cristal, onde passava o dia a vigiar e derramar suas incessantes Lágrimas.

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