sábado, maio 15, 2004

- Sabe Verônica, eu vejo você em silêncio por tanto tempo e você me faz pensar muito sobre isto. Acho que às vezes as pessoas falam demais e dizem muitas coisas que não valem nada para elas e para os outros. Mas nos seus olhos eu vejo alguém observando o mundo e aprendendo, eu vejo alguém que parece mais sábia do que o senso comum. Acho que eu tenho que te agradecer muito por me ensinar o valor das palavras.

Verônica continuou quieta, e a seu interlocutor pareceu mais uma demonstração sobre a grandeza das palavras. Mas se ela se desse ao trabalho de abrir a boca pra lhe dizer algo, seria mais ou menos assim:

- Grandeza das palavras o caralho. Eu não vou gastar meu tempo pra falar um monte de merda inútil pra gente que só para pra ouvir os outros porque depois quer que os outros parem para ouvir também. Se as pessoas achassem que as merdas que falam valessem alguma coisa, aí sim guardariam para elas ao invés de despejar em torrentes intermináveis de asneiras descontroladas. Eu só tenho merda pra falar, merdas que nem esta que você acabou de me falar, e por isto não me dou ao trabalho de abrir a minha boca. No dia em que falar for valer a pena, pode apostar também que não vou perder meu tempo falando com você. Eu passaria tanto tempo procurando alguém pra quem valesse a pena falar, que acabaria ficando quieta do mesmo jeito.

- É. - foi o que Verônica respondeu depois de um tempo. - você tem dois reais pra eu pegar o ônibus?

Ela sabia gastar sua saliva com o que era importante de verdade.

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