Queria que um grito
bastasse
para dizer tudo que não
me cabe
tudo o que nesse mundo
de merda
diz não à vida, à
liberdade
Mas há muito para um
grito
e minha voz, rouca, já
nem gritar consegue
sufoca
Abafa em meio ao caos,
em meio à ordem
imposta.
Em meio ao quinhão que
te cobram,
e já não resta um
tostão
nem para pagar o amargo
trago
que ao fim do dia te
faria esquecer a dor
e anestesiar os
músculos cansados
e a mente entorpecer
para que possa ao menos
parar de pensar
e começar outro dia.
Não há grito que dê
conta de dizer essa dor
Não há dor que dê
conta de doer essa vida
Não há vida que dê
conta de morrer essa morte
que já há muito tempo
se tornou
maior e mais forte
do que você possa
dizer
Quando morre mais um
e mais um e mais um
caindo ao teu lado
já não há mais
surpresa
e nem grito, nem
lágrima
um corpo morto que cai
como o teu, que
continua
já não há mais
grito, nem dor, nem surpresa
nem morte há mais,
porque já é igual a vida
E já não há o que
dizer
e por isso não digo
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