quinta-feira, janeiro 11, 2018

Queria que um grito bastasse
para dizer tudo que não me cabe
tudo o que nesse mundo de merda
diz não à vida, à liberdade

Mas há muito para um grito
e minha voz, rouca, já nem gritar consegue
sufoca

Abafa em meio ao caos, em meio à ordem
imposta.
Em meio ao quinhão que te cobram,
e já não resta um tostão
nem para pagar o amargo trago
que ao fim do dia te faria esquecer a dor
e anestesiar os músculos cansados
e a mente entorpecer
para que possa ao menos parar de pensar
e começar outro dia.

Não há grito que dê conta de dizer essa dor
Não há dor que dê conta de doer essa vida
Não há vida que dê conta de morrer essa morte
que já há muito tempo se tornou
maior e mais forte
do que você possa dizer

Quando morre mais um
e mais um e mais um
caindo ao teu lado
já não há mais surpresa
e nem grito, nem lágrima
um corpo morto que cai
como o teu, que continua

já não há mais grito, nem dor, nem surpresa
nem morte há mais, porque já é igual a vida
E já não há o que dizer

e por isso não digo

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