terça-feira, setembro 20, 2011

Diário da Argentina: Compañero López, PRESENTE! Ahora, Y SIEMPRE! Punição a todos os responsáveis pela ditadura, na Argentina e no Brasil!



Venho novamente falar do caso de Júlio López, porque o considero um importante exemplo que trás reflexões fundamentais para a esquerda brasileira. Antes de prosseguir, acho que vale à pena deixar este vídeo aqui, que o PTS produziu aos quatro anos de desaparecimento de Jorge Julio Lopez:



Neste vídeo se mostra a condenação de Miguel Etchecolatz, ex-comissário de polícia e diretor de investigações em Buenos Aires, que foi um dos principais responsáveis por mortes, torturas e sequestros durante a ditadura argentina, que em seu total assassinou 30.000 trabalhadores, militantes de esquerda, opositores ao regime. Foi ele, por exemplo, o responsável direto pelo sequestro de estudantes na "Noche de los lápices" que mencionei no meu primeiro post daqui.

Este genocida havia sido julgado no fim da ditadura, em 1986, e condenado a 23 anos. Porém, logo em seguida foi inocentado de todos os seus crimes pela suprema corte argentina baseado na "Ley Obediencia Debida", estabelecida na Argentina em 1987, durante o governo de Raúl Alfonsín. Esta lei perdoava todos os crimes de militares com patentes abaixo da de coronel de seus crimes, baseando-se no fato de que estavam apenas "cumprindo ordens". Pouco antes desta lei, em 1986, foi promulgada a "Ley de Punto Final". Depois, no governo de Carlos Menem, que foi o governo liberal em toda a linha da Argentina com diversas privatizações, vieram os indultos.

Há algo de familiar para você nestas leis? O Brasil, hoje governado por uma ex-guerrilheira, permanece com sua Lei de Anistia, que deixa completamente impunes TODOS os torturadores, empresários que financiaram o golpe, lhe deram suporte político, financiaram a OBAN (Operação Bandeirantes), que deu origem ao DOI-CODI. Durante o governo Lula, se fez uma "firula" de que algo seria feito. O ministro Paulo Vanucchi, considerado ala esquerda do governo, defendia uma "comissão da verdade e da justiça". Em pouco tempo, esta se tornou já uma proposta de "comissão da verdade": pedir justiça era demais. Mas a verdade é que Dilma e Lula não podem bancar sequer isso: seus maiores aliados eram parte orgânica do regime militar. José Sarney, por exemplo, a quem Lula dedicou grandes esforços para salvar, tendo chegado a centralizar o líder da bancada do PT no senado, Aloízio Mercadante, quando Sarney esteve envolvido em escândalos (se não me engano foi este aqui, mas são tantos que fica difícil lembrar de todos os escândalos!). Enfim, o PT não irá levar à frente nenhuma revisão da Lei de Anistia ou de punição aos torturadores.

Na Argentina, em 2003 foram revogadas estas leis que davam perdão aos torturadores. Em 2006, Miguel Etchecolat foi ao banco dos réus, e Julio López foi uma testemunha chave. Assistam abaixo, vale muito à pena, seu testemunho:



Foi por isso, por temerem sua coragem de dizer o que havia sofrido e de enfrentar os militares, coragem que os reformistas de ontem e hoje aplicadores da política burguesa do PT nunca terão, que sequestraram López. No dia seguinte de seu desaparecimento condenaram o primeiro genocida na Argentina, Etchecolat, à prisão perpétua. Mas é ainda pouco, muito pouco. Os camaradas do PTS há muito tempo dizem, como neste debate cinco anos depois das revogações das leis, que isso não é suficiente.

Não foi de graça que se revogaram as leis que anistiam os torturadores na Argentina, nem será de graça que o farão aqui. Lá, ainda há muito a se fazer. O governo de Cristina, que hoje tem 50% de popularidade, se passa por defensor de direitos humanos. A esquerda tem papel ativo, não apenas o PTS. O caso de Julio López, graças à atuação da esquerda, torna-se um escândalo nacional. No dia seguinte ao ato, no táxi, indo ao congresso, havia no rádio uma entrevista sobre isso. Hoje, passando por uma banca, vi estampado em um jornal. A denúncia ao governo está em nossas palavras de ordem nos atos:

- Cristina, no me chamuches! Hay genocidas libres, ainda há la impunidad! Y López dondé está? Y López dondé está?

(Chamuche, me disse uma camarada, é tipo uma conversa mole, lero-lero)

E também:

- Que pasa? Que pasa? Que pasa con el K? Hay desaparecidos en el gobierno popular!
e sua variante:
- Que pasa? Que pasa? Que pasa con el K? Ya pasán cinco años, Julio López dondé está?
("K" é o Kirchnerismo)

Há outra que denuncia a repressão ao movimento operário:

- mira Cristina, que popular! És el gobierno com más presos por luchar!

Em um país com 50% de popularidade em um governo que se diz "popular", em que o governismo tem uma base militante, com pichações nas ruas, marchas e manifestações, nos damos a tarefa de denunciá-lo, de enfrentar sua popularidade. Colocamo-nos a tarefa de enfrentar os resquícios da ditadura.

No Brasil, a esquerda está muito atrás. Somos um grupo muito menor, mas também temos nos colocado na linha de frente desta tarefa. É isso que demonstramos no dia 1 de abril, quando fomos a única organização que realizou um ato contra o golpe militar. A fala de Brandão foi muito lúcida no sentido de relacionar o que temos hoje com a ditadura:



É uma tarefa imprescindível da esquerda lutar contra a ditadura! O sequestro de Julio López é uma mostra de que ainda hoje há a impunidade, ainda hoje os torturadores e articuladores da ditadura estão livres, estão fazendo negócios milionários, estão nos governos! As transições pactuadas mantém os trabalhadores esmagados pela polícia, pelo estado! Se na Argentina nossos companheiros ainda lutam pela punição de todos os genocidas, aqui no Brasil, em que estamos muito mais atrasados, temos que redobrar nossos esforços: Pelo fim da lei da anistia! Pela punição de todos os torturadores, financiadores, cúmplices do golpe! Só os trabalhadores podem dar uma resposta a isso!

Participamos do ato pela punição do coronel Ustra, torturador de Merlino e muitos outros:



Mas este julgamento sequer pode condená-lo pelo que realmente ele é: um genocida!
Como gritamos no ato dos 5 anos de desaparecimento de Julio López:

- A los milicos assassinos les salvaran sus amigos: la democrácia peronista y radicál. Pero te cuides milico genocida, de la justícia obrera y popular.

Aqui também, não deixemos o PT salvar os milicos! Justiça operária e popular para punir todos os genocidas da ditadura!

Um comentário:

Mafê disse...

a ditadura não acabou: mortes de sem terras no Pará e no resto do Brasil, criminalização dos movimentos sociais,presos políticos (os 13 contra Obama...) polícia e repressão na USP (hoje foi o Brandão e a Diana Assunção) sistema carcerário predominantemente para população preta e pobre, impunidade para os políticos corruputos e para a polícia que age em favor deles... ABAIXO A LEI DA ANISTIA!