domingo, setembro 18, 2011

Diário da Argentina: Na Disco-Jumbo há ditadura! Não à demissão de Daniel Romero!

Chego a um casarão velho, uma imensa árvore no jardim debruça-se em direção à calçada. O portão externo aberto me sinaliza que devo estar no lugar certo, apesar do imenso silêncio e nenhum movimento por ali. Entro e subo as escadas da frente. A plaquinha discreta na frente me confirma que cheguei: Instituto del pensiamiento socialista - Karl Marx. Logo ao lado um pequeno bilhete sobre a campainha diz: não está funcionando - bata na porta. Contudo, antes que eu o possa fazer, vejo que algumas pessoas surgem no corredor andando em minha direção. Espero que abram a porta e me perguntem o que quero.
- Sou do Brasil, da LER-QI, vim para a festa.
- Ah, da ler-qi! Chegou cedo, vai poder nos ajudar.
"temprano"? Penso que os argentinos têm realmente hábitos diferentes dos nossos. Andei a passos apressados quase vinte quarteirões desde o apartamento que meus pais alugaram, chegando mais de onze horas com medo de que poderia ser tarde demais. No Brasil as festas que fazemos na Casa Socialista raramente passam da meia-noite, tanto por conta das possíveis multas como por conta do horário de trabalho, reuniões e estudo da militância e demais convidados. Depois de me receber, um dos anfitriões do PTS me explica: sim, chegou cedo. A maioria das pessoas vai chegar por volta de umas duas da manhã. Ajudo alguns preparativos. Têm luzes, mesa de som. Fazem cartazes com os preços: Fernet com coca-cola, 25 pesos; cerveja (brahma, uma de nossas multinacionais que vai inundando o continente) 15 pesos.
Converso com um camarada mais receptivo e simpático que vem me perguntar quando cheguei e quando vou, essas coisas. Descubro que é Daniel Romero, e que a festa é por sua causa: é delegado de base dos trabalhadores do comércio, e foi despedido por perseguição política. Trabalha na Disco, um mercado que foi comprado pela Jumbo, uma empresa chilena que já vem perseguindo os trabalhadores e sua organização sindical há algum tempo. Depois, lendo o boletim, descubro que já deixaram os delegados sem salário, que proíbem os funcionários de ir ao banheiro e que não fornecem refeitórios a eles. A festa é para arrecadar fundos para a luta dos trabalhadores, impulsionada pela agrupação Comercio Despierta (PTS e independentes).
A festa começa tão vazia que penso que será um fracasso completo. Algumas horas depois descubro que meus camaradas estavam certos: as pessoas começam a chegar às duas. Antes disso, Sole, também trabalhadora da Disco, foi a pessoa que me tirou do isolamento completo: insistiu para que eu aprendesse a dançar com ela, entre músicas bregas argentinas e lixo exportado por nós: ouvi na festa até a boquinha da garrafa. A discotecagem desta parte da festa ficou por parte de Diego, outro delegado de nossa agrupação independente. Conversei com camaradas do PTS sobre estas músicas, em que coincidiram comigo que eram terríveis e machistas. Mais uma mostra, dentre tantas outras, que mesmo entre a vanguarda da classe trabalhadora, a discussão sobre ideologia, arte e cultura é premente.
Mais de cem pessoas compareceram, e conheci camaradas sensacionais de diversos lugares. De Santa Cruz, da indústria alimentícia. E preparo-me para amanhã ir ao ato pela reaparição de Júlio López. Deixo-os com alguns vídeos da luta dos companheiros do comércio contra a demissão de Daniel Romero.

No al despido de Daniel Romero

Daniel Romero, delegado despido de disco, contra el desafuero de Victor

Nenhum comentário: