domingo, setembro 18, 2011

Diário da Argentina: 5 anos sem Julio López!



Consegui pegar o 150 na Avenida Santa Fé depois de rodar um pouco que nem tonto e perguntar para algumas pessoas. O guia de Buenos Aires que me foi dado pela camarada Patricia, trabalhadora da indústria alimentícia que conheci ontem na festa, me ajudou bastante. Não tenho nada a reclamar dos meus camaradas do PTS, que me receberam todos muito bem, mas sem dúvida noto uma diferença da proximidade que os brasileiros costumam ter. Sempre fiz pouco caso disso, como se fosse uma conversa pra boi dormir, um destes mitos nojentos que eu colocava no mesmo bojo de comentários reacionários sobre a sexualidade exacerbada das brasileiras e coisas afim, de estereótipos a serem rechaçados. Mas não se pode negar que há um traço cultural que nos influencia, ainda que eu, em geral, me considere um ponto fora da curva por minha timidez e antissociabilidade crônica. Daí que mesmo na festa tive longos momentos de isolamento e observação de canto.
No começo da festa o camarada Daniel Romero, o delegado demitido da Disco, foi muito legal me apresentando a todos; ele parecia ter bastante orgulho de apresentar um camarada da Fração Trotskista do Brasil - em especial aos companheiros independentes da nossa agrupação no comércio - e eu o entendo porque sinto o mesmo: acho incrível poder pensar na potencialidade de todos nós, em cada país que estamos, refletindo, atuando, conspirando contra o capital e golpeando a um só punho embasados em nossa estratégia e nosso programa que são fruto de milhares de cérebros e corpos dedicados ao mesmo propósito. Por mais que sejamos tão pequeninos perto da necessidade de nossa classe e da luta que enfrentamos, acho incrível esta potencialidade que existe, e sempre que penso nisto sinto minhas forças renovadas para continuar a lutar pela construção do partido mundial da revolução, ou seja, para que possamos voltar a ter a Quarta Internacional.
A companheira Sole, da agrupação "comercio despierta", também foi muito legal tentando me forçar a aprender a dançar, inclusive as músicas de meu próprio país que sempre desprezei. Infelizmente, creio que apenas a decepcionei em relação à sua capacidade de ensinar e também à tradição da "ginga" brasileira. Na verdade acho curioso como eu posso ser tão tosco para dançar, considerando que sempre gostei muito de tocar instrumentos musicais e acho que isso me dá um ritmo relativamente apurado. Acho que é mais um efeito colateral da timidez.
Mas, enfim, estou divagando. O ponto é que a camarada Patricia me ajudou e eu consegui pegar o ônibus 150 que parava em frente ao Congresso Nacional, de onde sairia o ato no dia em que se completam 5 anos de desaparecimento do companheiro Julio López. Este foi um companheiro que havia desaparecido durante a ditadura e reapareceu, era uma testemunha chave em processos contra torturadores e genocidas da ditadura militar, inclusive o chefe da polícia de Buenos Aires. Em 18 de setembro de 2006 foi sequestrado novamente, e até hoje não de sabe seu paradeiro. O governo dos Kirchner nunca se pronunciou a respeito, não faz nada para encontrá-lo e encobre muitos genocidas da ditadura. Há uma seção especial no site do PTS sobre os cinco anos de desaparecimento de Julio López.

Acordei tarde, saí correndo, achando que se chegasse às 16h (a concentração estava marcada para 15:30) estaria muito atrasado. E se eles saíssem?! Nunca mais conseguiria achar o ato!
O transporte público em Buenos Aires assustaria qualquer morador de São Paulo. É privado e subsidiado pelo governo, como em minha cidade natal. Mas para além disso, não tem paralelo. As tarifas de ônibus variam de acordo com o trajeto, chegando a um máximo de 1,25 pesos (cerca de 65 centavos de real); o metrô, com mais do que o dobro de nossas estações em uma cidade com muito menos gente, custa 1,10. Num domingo, esperei menos de dez minutos pelo ônibus.
Desci em frente ao congresso. Na praça, espalhavam-se rodeando-a as delegações de todas as organizações. As mais expressivas eram as do PTS, PO, IS, MAS e MST. Vi também a do recém-fundado PSTU argentino num canto. Fiquei decepcionado, na realidade, pelo reduzidíssimo número de pessoas, tanto em nosso bloco como em todo o ato. Logo fui conversar com Chipi, o Christian Castillo, nosso candidato a vice presidente pela Frente de Esquerda e dos trabalhadores (FIT). Ele, como sempre, foi muito simpático comigo.
- Ah, pardal! Viu o resultado das eleições? Ganhamos entre os estudantes.
Referia-se ao resultado das eleições para diretor de carreira, na qual estava concorrendo para a de sociologia na UBA, como disse no meu primeiro post. Eu havia visto no facebook, no qual a mafê havia me marcado em um post de Chipi referente aos resultados. Mas vi muito de relance, quando cheguei da festa antes de dormir. Pensando ingenuamente que acordaria antes do horário do ato, teria tempo para ver no dia seguinte. Respondi apenas:
- Não, não vi. como foi?
- tivemos 36,4%, os outros... (não me lembro bem o que disse, mas era coisa de 21% para um e não sei quanto para outro. Em segundo lugar ficaram os autonomistas e em terceiro os kirchneristas. Quem quiser ver alguns dos resultados, que no entanto não tem este especificamente, os companheiros do PO publicaram aqui no facebook)
De fato, ganhamos com folga entre os estudantes, o que mostra um ressurgimento da esquerda na sociais da UBA. A FIT tem dado um novo destaque a nossas ideias, e tem se mostrado uma tática completamente acertada, dando uma grande lição tanto aos ingênuos que pensam que os revolucionários não devem participar nas eleições como, principalmente em nosso caso brasileiro, ao miserável eleitoralismo de partidos como o PSOL e até dos companheiros do PSTU que rebaixam seu programa para "dialogar com as massas".
Enfim Chipi, obviamente, estava muito ocupado e não pode ficar muito tempo falando comigo, mas deixo-me dizendo:
- Não viemos com o partido todo, apenas uma delegação.
"Bom - pensei, tentando me consolar de ver apenas cerca de 50 camaradas por ali - os camaradas devem ter tido um bom motivo, talvez, para dar tão pouco peso a este ato." Mas a verdade é que não me convenci: fiquei com uma enorme pulga atrás da orelha pensando se não estávamos nos adaptando às lutas de calendário e ao rotineirismo da esquerda, tratando este ato dos cinco anos de desaparecimento de Julio López como mais um ato sem importância no qual devíamos aparecer para "cumprir uma obrigação". Além disso, parecia um velório. Camaradas parados, conversando entre si, sem canções, bandeiras enroladas e enfiadas no caminhão de som. Conversei um pouco com Patricia e com companheiros que vi na festa ontem, mas guardei minha inquietação para mim mesmo.

Algumas horas depois aprendi a mesma lição do dia anterior pela segunda vez: os argentinos tem um ritmo próprio. O bloco do PTS, como todo o resto do ato, cresceu assustadoramente. Avalio, de onde eu estava, que tínhamos lá umas quase 400 pessoas no nosso bloco. Camaradas meus da ler-qi já me contestaram mais de uma vez por minhas estimativas elevadas, então deixemos por 300. No ato inteiro eu diria que tinham umas 2000 pessoas. fiquei à frente, próximo a nossa bandeira de vanguarda, imensa, carregada com dificuldade por três pessoas fortes que seguravam imensos bambus e enfrentavam o forte vento de Buenos Aires. Todas as organizações grandes levam uma destas, na foto abaixo podemos ver as três da FIT enfileiradas lado a lado:



Carreguei uma bandeira do PTS/FIT de fazer inveja a nossa pequeninas bandeiras da LER-QI. Estive o tempo todo perto de um bloco de camaradas secundaristas e universitários que com certeza eram os mais animados do ato. Cantamos contra a ditadura argentina, seus resquícios e a cumplicidade do governo de Kirchner. Minha memória tosca tenta reproduzir algumas, sem dúvida as mais fáceis:

- A los milicos assassinos les salvaran sus amigos: la democrácia peronista y radical. Pero te cuides milico genocida de la justícia obrera y popular.

- Ahora, ahora, resulta indispensáble: aparición con vida e castigo a los culpables!

Tinha outras que lembro e esqueço a todo momento. Mas é incrível como aqui não se fazem apenas palavras de ordem, mas realmente marchas e músicas com cantos afinados e baterias apuradas, com letras com conteúdo político e programático de fazer inveja a panfletos toscos de grande parte da esquerda brasileira.



Enfim, já me alonguei muito e amanhã tenho que acordar cedo. Meu acordo com meus pais para vir para cá é que iria ao congresso mundial de psiquiatria, e agora vou ter que dividir meu tempo entre isso e as atividades políticas. Encerro deixando abaixo o manifesto lido na Praça de Maio no encerramento do ato, acordado entre mais de cem (!!!) organizações políticas, sindicais, estudantis, de direitos humanos, etc, etc.


Se cumplen hoy 5 años de la desaparición de nuestro compañero Julio López.

5 años de impunidad, 5 años de encubrimiento y silencio oficial.......

Una vez más, recordamos cómo, ante su ausencia y a pesar de la incredulidad, salimos a las calles a exigir su aparición.

La silueta de su rostro recorrió la argentina en multitudinarias marchas exigiendo su aparición con vida y el castigo a los responsables de su secuestro. Su imagen, testimoniando en el juicio del genocida Etchecolatz, se convirtió en el emblema de esta etapa de lucha contra la impunidad y por la aplicación de justicia a los genocidas.

A partir de ese momento y durante estos 5 años, la respuesta del gobierno nacional y provincial a nuestras demandas fue la descalificación y el silencio. Poblamos las calles con nuestro reclamo y recorrimos cuanto despacho oficial y judicial era posible.

Exigimos al gobierno una y otra vez, que impulsara la acción necesaria para dar con el paradero de Julio y con los culpables.

Sin embargo, el gobierno que se autoproclama defensor de los derechos humanos, no consideró de su incumbencia ocuparse del tema.

Por eso hoy, a 5 años , convocados por el Encuentro Memoria , Verdad y Justicia, .estamos una vez más en la Plaza, reafirmando que:

Acusamos al gobierno nacional y provincial de encubrir la desaparición, los responsabilizamos de usar el silencio para impulsar el olvido que sostiene la impunidad.

Los acusamos de haber renunciado a su responsabilidad de buscar y encontrar a nuestro compañero Julio, y a su obligación de detener , juzgar y condenar a los responsables..
Lo hacemos concientes de que esa política de impunidad es coherente con la política represiva que implementa hacia la protesta social.

La mano de obra genocida, así como sus discípulos presentes en las fuerzas de seguridad , están dispuestos y son utilizados para reprimir la protesta social.

El poder judicial demuestra palmariamente en este caso como es capaz de actuar cuando está al servicio de los sectores dominantes. La causa judicial de Julio es un ejemplo descarado de las maniobras de impunidad y encubrimiento de las que son responsables jueces y fiscales subordinados al poder político o a las fuerzas represivas.

Una vez más el discurso de derechos humanos del gobierno es un doble discurso. La realidad desmiente sus afirmaciones.

La anuencia oficial, del gobierno y de la justicia, con la desaparición de Julio y la impunidad que lo rodea , han sido la condición que facilitó el asesinato de Silvia Suppo, los secuestros de Pouthod y .. y las centenas de amenazas a testigos y querellantes en los juicios contra los genocidas.
Jamás se investigó a la Bonaerense, que en todos estos años, y en las más diversas situaciones , demuestra ser una verdadera organización mafiosa.

Hoy, a 5 años de la dolorosa desaparición de Julio, estamos firmes en la Plaza para ratificar la lucha popular contra la impunidad, para denunciar el encubrimiento, para poner voz al silencio de los de arriba, para reclamar justicia.

Y , junto a nuestros 30000, está Julio con nosotros, exigiendo cárcel común y efectiva a sus secuestradores, , a todos los represores y asesinos, a todos los genocidas.

Compañeros y compañeras: Levantamos aquí las banderas de la lucha por la memoria, por la verdad, por la justicia . Son las banderas de nuestra responsabilidad histórica con los compañeros detenidos desaparecidos y con Julio López.

Por ellos y por nosotros también levantamos las banderas del derecho inalienable y el compromiso a luchar por vivienda, trabajo y salario digno para todos, por educación y salud para nuestro pueblo, contra la entrega de nuestros recursos naturales, contra el pago de la ilegitima y usuraria deuda externa, contra la depredación ambiental de las empresas imperialistas. Por un país sin opresión, sin explotación. Un país justo por el que ellos dieron su vida.
Por eso reinvindicamos y nos sentimos partícipes de las puebladas, movilizaciones; cortes de ruta, huelgas, ocupaciones de fábricas, de tierras y de edificios públicos, escraches a genocidas, acampes, piquetes, que son la expresión más genuina de la disposición a la lucha y de la rebeldía popular .


Porque defendemos el derecho a luchar , estamos también aquí hoy denunciando al gobierno nacional y también a Macri y a los gobiernos provinciales, por la brutal criminalización de la protesta social y por la impunidad, de las que son responsable. Los denunciamos por el asesinato de luchadores populares.

Con dolor y con bronca tenemos que decir que en el último año fueron asesinados por las fuerzas represivas y por las patotas 14 de ellos, y que durante este gobierno , la respuesta a la ola de luchas populares que recorren el país ha estado marcada por represión y tortura. ; Que el gatillo fácil, instrumento de criminalización de la pobreza, sigue golpeando a nuestros jóvenes.

Denunciamos también que la impunidad de los responsables políticos y materiales de los asesinatos a nuestros hermanos se garantiza una y otra vez, mientras se persigue a los dirigentes obreros y populares a través de procesos judiciales, que se abren y reabren una y otra vez.

, Alzamos nuestra voz reclamando juicio y castigo por los chicos de Bariloche( nombres) , por Mariano Ferreira , por Roberto López........

Como el pueblo sí tiene memoria, estamos con Petete Almirón, Darío y Maxi, Cristian Ibáñez y Cuellar, Carlos Fuentealba, Lázaro Duarte.

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