domingo, outubro 28, 2012

Professora Marilena, vamos aos fatos

Nesta semana, os petistas da USP realizaram um ato pró-Haddad. O ato foi encabeçado pelo próprio PT e pela Consulta Popular, que nesta eleição tem mostrado um papel vergonhoso de ser mais petistas que o próprio PT. Este post é para debater especificamente a fala da professora Marilena Chauí neste debate, que ao longo dos anos tem se mostrado como uma das maiores defensoras ideológicas do PT na USP (tendo chegado às raias do absurdo ao afirmar, durante a eleição de 2010, que o bolsa família era uma espécia de "via brasileira ao socialismo"). Então, antes de mais nada, aí vai a intervenção dela neste debate:



A Juventude às Ruas esteve presente no ato, panfletando sua declaração pelo voto nulo programático no segundo turno em São Paulo e com cartazes que diziam "não há mudança com Maluf nem com o dinheiro da OAS (empreitera que doou um milhão para a campanha de Haddad) e da burguesia". 




Assim, pôde-se perceber, nitidamente, que nossa presença incomodou os petistas, e uma parte da fala de Chauí procurava combater justamente nossa posição pelo voto nulo. Mas vamos por ordem.

A professora ressalta que, em sua visão, há três formas de recusar a política: a primeira é uma concepção teológica do poder, de que o poder emana de uma fonte religiosa, divina, dogmática. Depois, mais à frente, ela afirma que Haddad combateria isto, pois não está com "os Malafaia da vida" (em referência a Silas Malafia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que declarou seu apoio a Serra). Ora, muito curioso isto, pois NO MESMO DIA do debate na USP, o candidato de Chauí que supostamente combate os "dogmas religiosos" dos "Malafaias da vida", apareceu publicamente recebendo apoio de 20 líderes religiosos de 11 igrejas e nove entidades evangélicas. Olha a cara de alegria do futuro prefeito ao receber os ensinamentos de Deus:



Em troca, Haddad prometeu dar um basta na lei do PSIU que proíbe que os crentes façam quanto barulho quiserem com a pregação de suas ideologia, ops, teologia da prosperidade. A lei do PSIU é escrota e reacionária, mas Haddad vai acabar com ela para garantir o apoio dos crentes. Me diga, professora, onde está o combate aos dogmas religiosos? Nos últimos dias, milhares de crentes receberam instruções de seus pastores para votar na "mudança" de Haddad. Denunciamos isto no ato, prontamente: pode-se ouvir, após Chauí falar o nome de Malafaia, a Juventude às Ruas gritando: "Edir Macedo!", falando dos aliados de Haddad.

Em seguida, Chauí volta sua artilharia retórica diretamente contra a Juventude às Ruas, recorrendo a Maquiavel e falando sobre os "moralistas" que olham "o céu dos princípios" para ignorar a "prática verdadeira que ocorre na terra". Por trás da excelente oratória de Chauí, que aprendeu muito com o mais brilhante conselheiro da monarquia, o que ela está dizendo é simplesmente isso: em política, não se deve ter princípios, mas sim entrar de cabeça na lama da política burguesa. É uma demagogia pomposa em defesa de uma política suja e sem princípios. O mesmo argumento pode ser utilizado para justificar o mensalão do partido de Haddad. 

Vamos então olhar mais de perto a "prática concreta" e sem princípios que defende Chauí: o PT, em seu discurso (ou seja, no campo "utópico" dos princípios) diz governar para os pobres (há algumas décadas seria para os trabalhadores, mas hoje acham este discurso já muito "ultrapassado" e os trabalhadores ficam só no nome do partido mesmo). Na "prática concreta", contudo, o PT militarizou os canteiros de obras em Jirau, Suape e outras obras do PAC, impedindo o direito de greve dos setores mais explorados e precarizados do proletariado brasileiro; cortou o ponto de grevistas do funcionalismo federal; autorizou o despejo de centenas de Guarani-Kaiowá (que, no campo dos princípios, bem como no Facebook, os petistas continuam defendendo e se comovendo, mesmo que seja o seu governo aquele que está fazendo isto). No campo dos "princípios", o PT defende a educação pública; mas na "prática cotidiana", Haddad transferiu milhões das verbas publicas para os empresários da educação através do Prouni (calcula-se que com a verba de cada vaga no Prouni poderiam ser abertas três vagas em universidades federais. No campo dos "princípios", Haddad e o PT defendem a saúda pública; mas na "prática concreta" ele garante manter a privatização da saúde em São Paulo através das chamadas "Organizações Sociais" (OS), que são empresas privadas que administram os hospitais públicos, e lucram muito com isso enquanto milhares de pessoas padecem nas filas. No "céu dos princípios", o PT combate as oligarquias reacionárias, as heranças da ditadura, luta pelos direitos humanos; mas na "prática concreta", se alia com Maluf, o governador biônico da ditadura que é responsável pela criação da vala clandestina do cemitério de Perus, onde foram enterrados centenas de jovens negros, pobres, trabalhadores e militantes de esquerda torturados e assassinados pela ditadura; o Maluf do "Rouba mas faz", "estupra mas não mata" (afinal, ele também é um homem que faz a "política concreta", e, segundo sua própria análise, perto do PT é um comunista, pois ele sabe o quanto os banqueiros e empresários lucraram nos anos de Lula e Dilma no poder). No "céu dos princípios" o PT é lindo, mas na "prática concreta" governa para os empresários, para a burguesia, ao lado dos Sarneys, Collors e Malufs que em seus "princípios" tanto combateram.

Para Chauí, provavelmente o "céu dos princípíos" é para a sala de aula. Lá ela diz, como no debate, que "está com o bem e com a verdade". Já em sua prática política, ela está no vale tudo dos partidos podres do regime. Para os marxistas o critério é distinto: nossos princípios são o guia de nossa prática política cotidiana, e não um palavrório para nos consolar de uma prática concreta mesquinha. Quem de fato exerce uma separação entre os princípios e o cotidiano é o PT e seus ideólogos, como Chauí, que se contenta em falar sobre o socialismo e manter-se na lama da política burguesa. Nós, pelo contrário, nos apoiamos em exemplos como o de Lênin, que por décadas travou uma luta incansável para construir uma ferramenta política dos trabalhadores que, no momento correto, soube tomar o poder das mãos da burguesia. Que fez uma política persistente, consciente e planejada. Ao estouro da Primeira Guerra Mundial, praticamente todos os "marxistas" da Segunda Internacional souberam, como Chauí, abandonar o "céu dos princípios" do internacionalismo proletário para fazer a "prática concreta" de apoiar as "suas" burguesias nacionais na carnificina imperialista. Lênin e Trotsky, ao contrário, soube guiar sua política concreta pelos seus princípios, e, mesmo isolados e em minoria, defenderam a política correta, do internacionalismo proletário. Se reuniram, em 1915, na conferência internacionalista de Zimmerwald, pouco mais de uma dúzia de revolucionários, que eram tudo o que havia restado de marxismo principista, que lutava pela unidade dos trabalhadores contra a burguesia. Souberam ser minoria e lutar contra a "prática concreta" do social-chauvinismo.

Hoje, também, os revolucionários são uma pequena minoria. E, como em momentos passados na história, desdenham de nossa "incapacidade" de fazer política concreta, ou seja, de "estar com as massas" custe o que custas, seja lá com que política for. Ao discurso de Maquiavel de Marilena Chauí, os revolucionários opõem o discurso de Lênin, em "O que fazer?": "É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho. De observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles"

Como disse a própria Chauí, a terceira maneira de se abster de fazer política é se dobrar diante da ideologia burguesa, "aceitar a tirania, a ditadura do imaginário dominante e não me colocar a altura de quebrá-lo, de rachá-lo de ponta a ponta". Sim, nos propomos exatamente a fazer isto, e não há nada mais distante de enfrentar o imaginário dominante do que votar em Haddad e "lavar as mãos". Chauí dá, como exemplo deste imaginário dominante, "a ideia de que a política é a ação de técnicos modernos, responsáveis e competentes que se apropriam de todo o espaço público para agir em nome dos interesses privados da classe dominante".

Vamos ver então um programa que apresenta um "técnico competente":




O discurso de Chauí é ideológico, porque falsifica o que é Haddad, seu projeto de governo, sua campanha. Para ganhar as eleições em São Paulo, Haddad se mostra como o "técnico competente" que vai resolver tudo com seu "Arco do Futuro", uma panacéia digna das grandes obras que "foi Maluf que fez". Os problemas, na campanha de Haddad, deixam de ser políticos para serem técnicos. Em verdade, o "Arco do Futuro" de Haddad irá beneficiar empreiteiras como a OAS, que "doou" (ou, mais precisamente, investiu) um milhão de reais na campanha de Haddad.

O argumento que cooroa a exposição de Chauí é o corporativismo universitário, que chama o voto em Haddad porque este é "professor da USP". Que importa isto para os trabalhadores e a população pobre de São Paulo?! Nada, e Chauí bem sabe disto, mas como está fazendo a "política concreta" na USP, irá recorrer ao sentimento corporativista dos estudantes ali presente para votar em um candidato que "nos represente". O Ministro da Educação, que ela reivindica que "paralisou" a privatização de Paulo Renato, foi o que privatizou as verbas públicas através do ProUni. A única coisa que Haddad "paralisou" foram as dezenas de universidades federais que entraram em greve neste ano contra a política de ensino precário de Haddad através do Reuni, em que os estudantes não tem salas de aula, bibliotecas, bandejões, alojamentos, professores (e estes não tem salários decentes).

Professora Chauí, nos mantemos no campo dos que lutam contra uma política que mantém milhões em uma vida de miséria, enquanto mantém a riqueza nas mãos de poucos. É isto que o PT, por vias distintas (e muitas vezes mais eficaz) daquelas do PSDB, tem feito ano após ano. Combatemos também os intelectuais vendidos, que tem colocado seu prestígio e seu mérito a serviço de produzir ideologia a serviço da dominação burguesa. É isso, infelizmente, que o discurso de Marilena Chauí fez nesta última semana, e tem feito ao longo de anos. Nossos princípios nós não abandonamos.





Um comentário:

Anônimo disse...

VALEW MANO! disse tudo!