segunda-feira, outubro 22, 2012

Os mandatos operários de Cléber e Amanda: uma oportunidade que não deve ser perdida

No primeiro turno das eleições municipais, se expressou um sintomático crescimento da esquerda (que analisamos mais detidamente na declaração da LER-QI). É necessário, em primeiro lugar, fazer a distinção entre PSOL e PSTU. Aquele, teve um expressivo aumento eleitoral, dobrando o número de vereadores, conquistando uma prefeitura e elegendo seu primeiro vereador na maior cidade do país. O PSTU, por outro lado, teve vitórias muito menos expressivas, do ponto de vista quantitativo, elegendo dois vereadores em capitais (Amanda Gurgel em Natal e Cléber Rabelo em Belém).

A trajetória acelerada e sem freios do PSOL rumo a ser "sócio menor" do regime burguês apodrecido

Contudo, do ponto de vista qualitativo não há comparação possível. O PSOL dá passos cada vez mais firmes rumo a ser nada mais do que mais um partido de um regime podre, a ala esquerda da miséria que a "democracia" burguesa pode nos oferecer. "Mas será que você não está exagerando? O PSOL participa de lutas, de movimentos sociais etc" poderiam objetar-me. Bom, como marxista, que procura olhar para as coisas (e aí também os partidos) como de fato são (e não como dizem ser!) e extrair as lições de uma realidade necessariamente contraditória, afirmo com toda a certeza que o PSOL segue um caminho decidido para ser uma perna bamba e "socialista" do regime burguês. Mesmo que muitos em suas fileiras, até os de suas alas mais à direita, como é o MES (Movimento de Esquerda Socialista), reinvidiquem Marx, Engels, Lênin, Trotsky, Rosa e Gramsci, sua prática nada tem a ver com os ensinamentos e a vida destes revolucionários. Colocam em prática aquilo que Lênin já apontou em 1917: "Os grandes revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para 'consolo' das classes oprimidas e para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas do movimento operário se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal 'tratamento'. Esquece-se, esbate-se, desvirtua-se o lado revolucionário, a essência revolucionária da doutrina, a sua alma revolucionária. Exalta-se e coloca-se em primeiro plano o que é ou parece aceitável para a burguesia. Todos os sociais-patriotas (não riam!) são, agora, marxistas." Tristemente, o PSOL está muitíssimo mais próximo dos detratores em vida de Lênin, como os mecheviques e os socialdemocratas alemães, do que de Lênin e sua doutrina...

É exatamente naquela fatia que Lênin classificou como "os oportunistas do movimento operário" que se encaixa o PSOL (ainda que possam existir indivíduos que são exceção, mas que no conjunto do partido não apenas não fazem diferença como colocam suas posições de esquerda para "lavar a cara" dos oportunistas de carreira; a estes, só resta abandonar o partido ou subordinarem-se às direções oportunistas). São oportunistas porque sua reivindicação fajuta de Lênin, sua atuação no movimento operário, estão sempre subordinados a melhor eleger parlamentares, a melhor aparecer como o partido da "ética" e "contra a corrupção". O que "esquecem" os oportunistas do PSOL é que, neste mesmo texto de Lênin supracitado, ele aponta, com vastas citações de Marx, a impossibilidade de um Estado burguês "ético" e sem corrupção. Isso porque, como afirma Lênin (baseado em Marx): "O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável das classes.O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as contradições de classe são inconciliáveis." E, apontando o que faziam os oportunistas de sua época: "De um lado, os ideólogos burgueses e, sobretudo, os da pequena burguesia, obrigados, sob a pressão de fatos históricos incontestáveis, a reconhecer que o estado não existe senão onde existem as contradições e a luta de classes, "corrigem" Marx de maneira a fazê-lo dizer que o Estado é o órgão da conciliação das classes. Para Marx, o Estado não poderia surgir nem subsistir se a conciliação das classes fosse possível.".

Os oportunistas "clássicos" da Segunda Internacional formularam com todas as letras esta concepção, de que o Estado poderia "conciliar" as classes e, desta forma, seria possível atingir o socialismo por vias pacíficas e por meio de reformas graduais. A história demonstrou seu erro diversas vezes. Aqui ao lado, no Chile, temos um exemplo trágico e inesquecível no reformismo de Salvador Allende, um reformista honesto que acabou por preparar o ascenso do fascismo em seu país entregando um ministério a Pinochet, que mais tarde seria o autor do golpe militar, para "acalmar" a burguesia raivosa. Foi mais um fracasso da concepção do Estado como órgão conciliador das classes. Hoje, o PSOL repete a mesma concepção, ainda que, nos discursos, muitas vezes diga que não. Enquanto os revolucionários honestamente dizem que bebem na fonte dos grandes dirigentes do movimento comunista que nos antecederam, os oportunistas sempre afirmam estarem inventando "o novo". Allende falava da "via chilena" para o socialismo, sem lembrar que esta via fora em primeiro lugar a do oportunismo alemão; o PSOL diz que é um "partido novo", requentando estas mesmas táticas.

Mas, enquanto afirma ser um "partido necessário", vemos que sua trajetória não é mais que uma paródia dos grandes partidos de massa reformistas. Antes que possuam alguma expressão, sua degeneração oportunista é patente. Primeiro foram as doações da Taurus e Gerdau (fabricante de armas e monopólio do aço - analisamos esta doação neste artigo ) para a campanha de Luciana Genro à prefeitura de Porto Alegre, que vão contra um princípio elementar do marxismo: a independência de classe (como defender os interesses dos trabalhadores sendo financiado pela burguesia?). Também votaram seus parlamentares diretamente contra direitos dos trabalhadores, quando votaram a favor do Supersimples. Agora, até mesmo seu verniz de "ético" e "anti-corrupção" vai por água abaixo, quando um membro da sua Direção Nacional, Martiniano Cavalcante, comprovadamente recebeu 200 mil reais de Carlinhos Cachoeira (Vale lembrar que Martiniano é da corrente interna MTL, a mesma que dirige a oposição ao Sintusp em São Paulo, e que ele chegou a disputar a vaga de candidato a presidente com Plínio de Arruda Sampaio, sendo apoiado pelo MES). Em cidades como Macapá e Belém, o PSOL está recebendo apoio do DEM, PTB, PSDB. Seu ex-candidato a presidente recentemente declarou apoio a Serra, enquanto a direção municipal não vê nenhuma diferença entre o voto nulo e o voto em Haddad... o que sobra para o PSOL? E deixamos a pergunta para os que ainda tem esperança neste partido: o que poderia frear este curso acelerado rumo a ser um novo "mini PT"?
Veja o apoio de Lula ao candidato do PSOL em Belém:

 

O PSTU tem nas mãos a chance de colocar seus mandatos a serviço da luta de classes, mas para isso deve mudar a perspectiva destas vitórias táticas!

Deixando claro porque o PSOL, ainda que seu avanço eleitoral contraditoriamente represente algo progressista, NÃO é uma alternativa para os trabalhadores, passemos ao PSTU e seus novos vereadores. O PSTU é um partido operário, não recebe dinheiro da burguesia, defende em seu programa a revolução socialista e a ditadura do proletariado. Só por isso, já tem um abismo de distância com o partido pequeno-burguês e oportunista que é o PSOL. Contudo, não é de hoje que discutimos como o PSTU se distancia da herança revolucionária de Trotsky, apoiando candidaturas de conciliação de classes e justificando com todo tipo de malabarismo teórico. Sobre isso, vale ler este artigo, que desenvolve bem as questões de princípio envolvidas.
Agora, o PSTU rompe a frente eleitoral em Belém, sob o pretexto de que recebe o apoio de Lula. Para o PSTU, magicamente isto foi um salto de qualidade em relação a receber dinheiro da burguesia e fazer frente com o partido que é uma base sólida de sustentação do governo e uma das maiores "patas" da burocracia sindical no país, o PCdoB de Aldo Rabelo. Veja abaixo o vídeo do vereador eleito do PSTU explicando a ruptura:


E aí, se convenceu? Eu não...ele diz que havia um "critério de classe" na composição da frente. E onde vai a grana do empresariado que apoiou no primeiro turno neste tal "critério de classe", que só para o PSTU existia? Infelizmente, tenho que concordar com um colega da Letras, ex-militante do PSTU, que coloca esta postura do PSTU como extremamente oportunista, diante do fato de que seu objetivo central, a eleição de Cláber, está atingido. Não pode haver outra explicação, pois o curso oporunista da campanha de Edmilson seguiu plenamente coerente; quem não teve a coerência necessária a um partido operário foi o PSTU. Além disso, sob que base se justifica o voto crítico que continuam chamando em Edmilson? Cléber se cala quanto a este fator, nada secundário.

Contudo, estas contradições não anulam a notoriedade da eleição, de Cléber, mas, principalmente, de Amanda Gurgel. Com estes dois mandatos operários, os companheiros do PSTU estão convocados a transformar a tribuna do parlamente burguês num espaço de denuncia incansável do regime, do capitalismo, de apoio às lutas de todos os setores explorados e oprimidos, dos trabalhadores e da juventude. Mas será que o PSTU está neste caminho? Neste ponto, queria apontar a seguinte contradição. Este é o discurso da vitória de Amanda Gurgel, até pouco tempo a capa de entrada do site do PSTU:


Este discurso foi pronunciado para a militância do PSTU. Bem classista, né? Denuncia o regime, fala que é um mandato coletivo a serviço das lutas, diz que o parlamento é o território inimigo, que "o nosso lugar é a luta". Que diferença do discurso que Amanda tem feito para as massas, no horário eleitoral.


Onde está a crítica feroz ao regime ao dizer que "precisamos de mudança na câmara" e "contra o poder econômico temos a força das ideias". Na campanha de Belém, PSTU vai mais longe com o Slogan "Belém para os trabalhadores", como se uma eleição pudesse fazer Belém estar de fato a serviço dos trabalhadores! Isso é o contrário de como os revolucionários devem usar o parlamento, como diz Lênin, para acabar com as ilusões da massas de que ali se pode obter grandes "vitórias". 

A conquista de um lugar no parlamento, espero que os companheiros do PSTU a coloquem a serviço de um programa classista. Como exemplo, coloco o mandato dos deputados trabalhadores da fábrica sem patrões, Zanon, na Argentina. Veja a diferença de seu programa eleitoral:



Um recorte de classe, que defende a expropriação do petróleo sobre controle operário, coloca o mandato ligado a sua luta na fábrica. Espero que Amanda e Cléber passem a fazer este tipo de discurso, para ajudar a avançar a consciência dos trabalhadores (o que, muitas vezes, significa chocar-se com ela!)

Seguimos entusiasmados e ansiosos com os primeiros mandatos operários e independentes na tribuna burguesa do Brasil neste século, enquant avança uma crise internacional. Que o PSTU coloque estes mandatos a serviço da luta de classes, e isso será um grande trunfo nas mãos da classe trabalhadora! Uma nova trincheira, que pode ser útil na guerra de classes desde que usada como um posto avançado no território inimigo para lutar por nossas posições, sem recuar um passo sequer!
Avante!


2 comentários:

Anônimo disse...

Pardal,
A oposicao do sintusp saiu do mtl a umm tempo ja...

fred

Fernando disse...

é mesmo? Faz tempo que não os vejo, na última assembleia que os vi eles se apresentaram ainda como do MTL. Eles estão em alguma outra corrente, Fred?
E o Martiniano continua no MTL né? Se vc puder explicar, gostaria de saber mais sobre a relação entre o MES e o MTL.