domingo, setembro 12, 2010

Das coisas que se pode aprender com a solidão

Talvez a primeira coisa que eu poderia dizer que eu aprendi com a solidão foi esta vontade, um pouco absurda na minha cabeça de uns poucos dias atrás (quando eu estava sozinho mas ainda não tinha aprendido muito com isso), de que se pode vir em um lugar assim, como um blog semiabandonado, que é mais ou menos público - pois todos podem acessá-lo - e mais ou menos secreto - pois ninguém teria por que encontrar este domínio obscuro do blogspot (eu sempre fico surpreso que de fato possa haver gente tão perdida aleatoriamente na rede que chegue de fato a este texto e o leia!), e se escreva sobre coisas que no mês passado eu já nem lembrava como se contava a um amigo.

Perdoem-me os períodos gigantescos, cheios de vírgulas e digressões em períodos compostos mal encaixados, mas é que minha mente está livre das regras habituais de composição; ou, melhor dizendo, eu estou fora da gaiolinha.

Bom, mas acho que escrever, e talvez o fato de eu ter parado com isto, tenha muito a ver com isso, como eu de certa forma sempre soube. Quando eu comecei a escrever, como uma necessidade e uma coisa que eu realmente amava fazer, foi durante o primeiro período da minha vida em que, como um adolescente uma tanto deprimido, entre o pós-modernismo e um comunismo quase utópico-instintivo, e, é claro, muito egocêntrico, melodramático e autocomplacente, eu estava afundado na minha primeira tristeza mais profunda, sem amigos muito próximos e, fundamentalmente, sem muita referência de vida ou de mundo. Pegando todas aquelas porcarias que ficavam se remoendo dentro da minha cabeça e estômago, joguei todas elas num conto, um autêntico escrito bobalhão, mas sincero. E eu gostei muito de ter feito isso.

Acho que um monte de coisas me levaram a interromper isto, e também um monte de outras coisas: música, escritos, criar. Mas, talvez uma das preponderantes tenha sido isso: eu passei a fugir de ficar sozinho como o diabo foge da cruz. E é impressionante, ao olhar para trás, começar a perceber a que limites isto me levou, que tipo de coisas comecei a fazer comigo mesmo e com os outros para atender desesperadamente e sem perceber a esta necessidade: ter alguém do meu lado para me socorrer da assustadora experiência de me saber por conta própria diante desta vida imensa, deste mundo horrível, podre, vil; de saber que, no fim das contas, a gente tem que saber andar nele com nossas próprias pernas, e que não adianta tentar encontrar alguma outra pessoa para jogar em cima o fardo dessa solidão, e nem para tentar prender alguém com você pelo preço de "segurar" também o fardo dela. Não é disso que são feitos os amores, os verdadeiramente revolucionários, e nem os verdadeiros companheiros, aqueles que estarão dispostos a ajudá-lo sim, sempre, pois estão unidos por algo muito mais sólido e verdadeiro do que aquele desespero de não estar sozinho. É uma relação de dois sujeitos, cada um se sabendo e agindo como isto. E a relação deles é algo fundado em coisas reais: confiança, afinidades, compreensão mútua e um desejo de ajudar aquela pessoa no que ELA quiser, e não no que VOCÊ quer que ela queira. Disto são feitos os verdadeiros companheiros, prontos, aí sim, a poder ajudar um ao outro a ter que viver em um mundo que é uma grande bosta. E, muito mais importante do que isso, a ter a disposição para procurar e lutar pelo caminho de mudança dele; e a ter a sensibilidade, ajudada pela do outro, a procurar os detalhes, as frestas. Ler, refletir, procurar.

Precisamos encontrar na solidão a nós mesmos; precisamos nos fazer sujeitos diante do que a vida nos impõe; pegar nossa história pelas mãos. E, assim, poder saber de uma maneira profunda e verdadeira que não somos nem nunca seremos o sujeito heróico burguês, o self made man, a mulher da capa de revista, o político célebre das páginas do jornal, o casal feliz da propaganda de Margarina. Somos sujeitos que precisam procurar outros sujeitos para poder construir, coletivamente, pois é esta a única forma possível, uma saída para esta escuridão em que estamos; uma saída verdadeira para que, amanhã, os sujeitos possam se saber muito mais e muito melhor como sujeitos; e possam, assim, saber muito mais profunda e verdadeiramente ser companheiros e amar. Saber os verdadeiros significados que podemos atribuir a estes conceitos, que sem dúvida ainda estão por nascer nas mentes de uma humanidade futura.

E hoje, sozinho aqui e me esforçando por procurar de verdade me descobrir como um sujeito, eu me sinto bem, apesar de às vezes um pouco assustado ainda, de saber que é este o caminho que eu estou lutando para traçar.

2 comentários:

Anônimo disse...

não que eu acompanhe esse blog semi moribundo, nem estava assim tão perdida na rede... ou talvez estava um pouco, e me perguntei "será que ele escreveu alguma coisa nos últimos tempos?", leia por "últimos tempos" os muito meses em que não venho especular sua atividade literária, e tinha escrito.

esse medo da solidão é mesmo um negócio maldito.

beijos

Luli

bernardo disse...

demorou pra perceber, hein

mas pelo menos vc voltou a escrever. ve se nao para dessa vez. tem sido solitario.