K. conta a história de um pai em busca de sua filha, desaparecida e assassinada pela ditadura.
Às tantas, uma amante de um torturador oferece suas informações. Ela fala sobre ter se apaixonado por um torturador, o que ocorreu quando foi pedir um passaporte falso para salvar o irmão, Zinho, militante perseguido pela ditadura.
"Mas o que importa é que virou paixão. E aí não interessa se o cara é um bandido, se é casado ou solteiro, ou o que seja; não sei se a senhora já viveu uma paixão, se a gente nega, ela só aumenta, vira doença, arrebenta com a gente.
[...] O crime não é se apaixonar, o crime é se negar, um crime contra si mesma"
Há muitos crimes em se apaixonar. Contra si mesmo e contra os outros. Às vezes nossa paixão é um crime contra a pessoa por quem nos apaixonamos; contra quem amamos. É sem saída. Ela diz, no romance, que se nega, ela vira doença e arrebenta com a gente. E diz, também, que ter vivido essa paixão a tornou um monstro para os que a amavam.
"Já estou queimada mesmo, repudiada pelos meus irmãos, sem poder ver meus sobrinhos; marcada como se fosse com ferro quente na testa, como se marcam as ancas do gado no Paraná. Essa marca vai ficar para sempre. Assim como a senhora vai carregar a sua dor até o dia em que morrer, eu também vou carregar essa marca até o dia em que morrer. Meu consolo é que eu salvei Zinho."
Não há saída. Eu vivo em pedaços.
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