quarta-feira, julho 12, 2017

Não chego

A tocar, a sentir

Um raio tênue que seja, de luz ou calor

A dissipar esse inverno, essa dor

Que estira meus músculos. Tesos, cansados

A fatiga de gritar contra o vento, a nevasca

Entra gélida pela minha garganta, corta minha voz, meus pedidos

Que jamais foram ouvidos. Teus ouvidos surdos, incapazes de saber

Que onde há uma voz que grita por teu nome, há também um clamor de vida

Uma busca incessante por regurgitar todo esse ódio do mundo, essa grossa e espessa baba

Que nos cobre de nojo, de ódio, de tédio e indiferença. Toda essa merda que você permitiu que tomasse seu coração, que tomasse seu cérebro e te fizesse uma imbecil como tudo aquilo que você jurou combater.

Olho nos teus olhos, pela minha memória, e já não mais te vejo. Alguma vez te conheci, ou você sempre esteve enfiada nessa montanha de lixo que a gente é obrigado a chamar de vida, mesmo sabendo que não é, mesmo sabendo que é a morte que se arrasta por nós, que se arrasta incessantemente pelos anos sofridos que comem e roem cada fio de esperança.

Você já soube alguma vez que no teu espelho se reflete esse monstro? Esse, que você vê lá fora e em mim, mas que nunca, jamais viu que está em você, que está em tudo que toca, que cheira, que sente.

Em tudo que pulsa e que há de morrer. Não, ninguém está impune. Nem eu nem você.

A diferença é que minha morte, minha dor, eu aprendi a dividir, a sentir com o outro, a aplacar meus julgamentos que já há muito tempo não considero impenetráveis, irredutíveis, irrefreáveis.

É essa vulnerabilidade e a consciência dessa dor, da imensa falibilidade de nossos sentidos, de nosso julgamento e de nossas tentativas. É a possibilidade de dividir isso com outras criaturas falhas e imperfeitas, sem ser dominado pelo ódio e pela alteridade impenetrável. É essa, essa pequena brecha de nossa solidão tão abrangente e que a tudo cobre, é o que chamamos de amor.

E foi apenas isso que quis te ofertar. Mas a porta estava fechada, e sempre estará.

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