segunda-feira, agosto 08, 2016



Cheguei perto só uma vez, pelo canto dos teus olhos, tuas letras. Tão perto e tão distante; quis tocar tua vida, teus sonhos, tuas angústias, dúvidas, medos, porquês. Mas apenas senti tuas palavras, daqui de longe, de onde não consigo cheirar teu cabelo, tua pele.

De onde não dá pra ver a lágrima se acumulando, ardida e devagar, no canto do teu olho. Ali onde tremula, vacila, hesita, antes de escorrer num piscar.

O olhar que vejo é o teu, mas não é. É o meu olhar olhando para o teu, tentando seu o teu, ser teu. Como sempre é, em qualquer amor. São todos inventados, são todos verdadeiros.

E o meu é teu. O meu sentimento, pelo qual já passei por cima, volta, volta e volta. Procura o teu, um pouco desesperado, é verdade. Paro, respiro, é difícil conter nossas invenções. As invenções que faço das tuas palavras, que destilam, concentram, se tornam meus sonhos. E ardem.

Como faço para tocar não só essas palavras? O que passa por dentro, pelo lado, por trás delas. Como faço para entrar por essa porta, que nunca sei se está aberta, entreaberta, ou se só me provoca e me inquieta à distância? Quero teus desejos, os protegidos da vida comum, brincando com os meus. Mas quero teus dias, duros, problemas, suas lágrimas. Quero só te dar um abraço forte no fim do dia e dizer: "eu tô aqui". E você saber que é de verdade. Verdade como o seu olhar, pelo qual eu olho. E meu olhar, que é teu.

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