segunda-feira, outubro 19, 2020

Destila. destino

 

Fermenta no peito essa dor

que cavei nos dias

curando, como um queijo,

cada farpa de rancor, numa suada gota

caindo no fundo do pote


um pingo de fel, um rastro de lágrima

escorre na pele, na sombra dos dias

não se vê, nem se ouve

a dor surda,

recalque

mágoa

sem


na foto, no som

retorço a escuta

passado fugidio

só meu


na fantasia de fazer um

nutri as escolhas

todas erradas

mal feitas

mudas


não te dirijo a palavra mais

nem escrita, nem gemida

são minhas agora

e as escondo

no fundo

cegas


não são

não se diz

não se representam

em nenhum sonho requentado

nessa pura ilusão crescente que já se vai

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