terça-feira, janeiro 19, 2010

Haiti: a heróica luta de um povo oprimido



Há muito blá, blá, blá por aí sobre o Haiti. É só ligar qualquer canal de TV, sintonizar qualquer estação de rádio para ver a farsa montada: o melodrama sensacionalista que a mídia burguesa faz sobre a tragédia de um povo. Concomitantemente, se abafa de maneira escandalosa as causas deste sofrimento pelo qual os haitianos passam hoje, montando um cenário imaginário em que se trata apenas de uma "catástrofe natural". Mas a coisa é tão gritante que mesmo nas arestas dos grandes monopólios da comunicação vemos algumas vozes que resgatam a exploração secular que se abate sobre os haitianos, como é o caso do texto de um professor e um estudante da Unicamp (militante do PSTU) que saiu na Folha.
Durante a greve da USP no ano passado tive a oportunidade de participar de uma atividade organizada pela Conlutas e pelo Comando de Greve dos trabalhadores e ouvir o relato de Didier Dominique, um militante de esquerda da Central Sindical e Popular Batay Ouvrier. Mesmo tendo sempre me posicionado ativamente contra a brutal ocupação das tropas da ONU no Haiti, foi só neste momento que tive a real dimensão do que se passa lá.

Didier falou sobre as revoltas que ocorreram no início de 2009 pelo aumento do salário mínimo (que tem o valor de US$1,70 por dia!). Falou sobre o tipo de perseguição política que sofrem os militantes de esquerda, sobre as repressões ao movimento que chegaram ao ponto das "tropas de paz" invadirem um hospital jogando bombas de gás lacrimogêneo em seu interior, assassinando um idoso e uma criança recém-nascida. Falou sobre a situação de miséria do Haiti, onde há 70% de desemprego e 90% de analfabetismo.
Hoje também vemos nas notícias sobre o terremoto as opiniões sobre a dificuldade de ajuda aos haitianos por conta da falta de estrutura do país. Pouco, contudo, se fala sobre o que gerou isso. Muito se fala sobre ditaduras sanguinárias que existiram lá; pouco se fala sobre que as financiou, quem as apoiou ativamente, quem ocupou o país militarmente diversas vezes. Muito se fala sobre supostas "tropas de paz"; pouco se
fala sobre o papel que cumprem cotidianamente, reprimindo a população, estuprando as mulheres, aterrorizando aqueles que se revoltam contra a miséria imposta.
Resgatar a história deste povo é fundamental, desde a luta por sua independência, que em 1804 conseguiu derrotar 25 mil homens das tropas de Napoleão e fundar o primeiro país independente da América Latina, a primeira república negra do mundo. A nossa solidariedade deve ser ao povo haitiano, que lutou e luta a cada dia contra aqueles mesmos que hoje aparecem de cara lavada nas televiões, internet e jornais, estendendo sua hipócrita mão para "ajudar".
Hoje o imperialismo disputa a tapa para decidir quem vai comandar o futuro do Haiti. O aeroporto está controlado pelas "humanitárias" forças militares estadunidenses que impedem o acesso de ajuda médica para priorizar o repatriamento de cidadãos de seu país. Mandam cada vez mais tropas, mas podemos ver nas poucas entrevistas com a população que não há ajuda alguma ao povo, que é obrigado a saquear as lojas destruídas (sendo violentamente reprimidos pelas "tropas de paz" por tentarem sobreviver) e tirar seus amigos e parentes dos escombros com as próprias mãos. A grande ajuda que chega, como apontou Adriana Diniz no JB, foi 4 mil vezes menor do que o dinheiro usado para salvar os capitalistas durante a crise.

Para quem quiser acompanhar mais notícias sobre o Haiti, estou postando algumas coisas interessantes no meu twitter (fepardal). Na quinta-feira realizaremos um ato no consulado haitiano, com horário ainda a determinar. Em breve divulgo com mais detalhes.

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