domingo, setembro 30, 2007

Pigarro, tosse. Mais tosse. Olhos em volta cutucam, não conseguindo manter a barreira da indiferença. O pus sobe e desce na garganta, dolorido como se fossem cacos de vidro. A mão, velha e enrrugada, envolta na luva esfarrapada, se esforça para permanecer colada na barra de metal a cada solavanco. A cada contorção doente do seu corpo, cresce a barreira de nojo e pena dentro do vagão lotado. Os olhos semicerrados tentam se voltar para baixo, para fora. Para algum lugar longe daquilo tudo. As dores, no entanto, impedem-no de alimentar imagens muito complicadas na sua cabeça. As tardes bestas e tranquilas que ele tenta resgatar das décadas passadas se dissolvem com as chiadas contrações de seu pulmão, desesperado por um ar que parece nunca vir.
Quando abre os olhos novamente, percebe que estão a sentá-lo nos bancos cinzas. Murmuram-lhe alguma palavras vagas. Há um vácuo ao seu redor. Ele solta o corpo no banco e aguarda a morte.

Nenhum comentário: