sábado, novembro 12, 2005

A hora das quatro me consome a vida, indiferente.
O vagar dos dias dissolve o sentido, qualquer que seja, daqueles cantos onde um dia enxergara reflexos da sua alma. Empalidecido, desgastado. Agora os dias eram foscos, e os caminhos, não importando onde fossem, já não eram dos pés de alguém que conhecesse. Amor, amizade e as outras palavras da mesquinha língua dos homens haviam se desgastado e perdido o clamor que a ingenuidade lhes conferira um dia. Embebidas da artificialidade que, esta sim, fulgurava em sua essência, nada mais comunicavam. Palavras, pensamentos, dias. Os olhos, quem dera tivessem se perfurado antes, com a intensidade que latejava em tudo: das asas de uma borboleta estúpida ao branco rígido do rigor mortis.
A alegria, outra das palavras prontas e estéreis, esta a achava em pequenos acontecimentos sem significado algum. Apenas por um momento, se vestiam com um sentido que parecia recriar algo que já nem mesmo sabia o que era. E, em alguns segundos, tentava ao menos se agarrar na nostalgia, pois lhe vagava pela mente anestesiada a tênue e ridícula impressão de que um dia já soube porque vivera tanto.
Nas manhãs havia o espelho. As imagens físicas não eram como a das palavras, idéias, sentimentos e sentidos: elas não se alteravam, exceto por esforço do tempo que as corroia. Era apenas o sentido que as recheava que se alterava conforme o ser olhante.
Tudo que um dia houvera havia se tornado sombras. Vivia ainda, quem sabe no porvir de vislumbres.

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