sexta-feira, setembro 16, 2005

Ela era feita de futuro, da matéria-prima rústica que se encontra nos escombros, nas profundezas, nos berços, nas montanhas, nos esboços e rascunhos, que surgem da beleza espontânea das primeiras idéias frescas que vêm ao mundo. Ela era feita de possibilidades, da esperança mais cândida, daquele tipo que não se tornou um lugar comum, uma palavra gasta prostituída na boca de um farsante. Ela era feita de um amanhã que se concretiza a cada dia em um hoje cheio de tudo, de um dia que encontra as coisas por elas mesmas, autênticas e com a ousadia destemida de quem não se importa em parar pra se preocupar.
As alegrias, quando passageiras, tinham como rebento a mais bem acomodada lembrança, cultivada cuidadosamente e com os floreios que a realidade crua merece que nossa mente lhe forneça. As tristezas ganhavam o lugar de sua merecida importância, tomando para si ares de tragédia e forjando as paredes do castelo de cartas de acontecimentos que formavam o modo de ser e pensar e sentir. Até as mais simplórias banalidades abandonavam sua triste fugacidade para ganhar as entrelinhas que as vestiam como uma coisa que valia a pena ser lembrada, escrita, rememorada, revista, guardada.
As palavras e os gestos, ela sabia, eram inexperientes, cheios de medo e hesitação, mas até mesmo por isso embutidos de uma satisfação e de uma coragem que os tornavam mais verdadeiros, mais contundentes em suas intenções. As tentativas, mesmo quando pretensiosas, não eram arrogantes e sabiam da sua chance de sempre dar errado. E quanto maior fosse a chance de fracassar, maior era a satisfação de conseguir. A ignorância nunca fora um motivo de vergonha, mas sim de alegria por poder aprender alguma coisa nova sempre. A imaturidade nunca fora um obstáculo, mas um passaporte para poder ousar e conhecer sem o fardo das convenções e das limitações sociais. A falta de idade apenas cumpria o papel de encobrir agradavelmente o infinito de tempo por descobrir.

Nenhum comentário: