terça-feira, agosto 30, 2005

O menino que usava camisetas brancas e meias pretas sempre iguais teve um sonho metalinguístico. Dormiu em sua cama, na mesma hora e do mesmo jeito que dormia todas as noites, com um copo d'água, dentes escovados, pijama verde de flanela e toda a vontade de que a noite não chegasse ao fim, porque ao fim da noite sempre vem o longo dia, tão mais longo que a noite e tão mais longe da vida. No seu sonho, que veio na forma de um despertar pro dia, o menino andava naquele simulacro de vida-do-dia-normal que a nossa cabeça faz quando estamos dormindo. Mas a nossa cabeça, assim como o menino (apesar de usar camisetas brancas e meias pretas sempre iguais) não gosta de mesmices, rotinas, relógios, ponteiros ou de leis da física e outras coisas que a gente vê nos filmes e nos livros da escola, e foi por isso que neste sonho o menino tinha camisetas pretas e meias brancas. E o menino entrou na escola, não do jeito que as pessoas chamam de "de verdade", porque deste jeito ele estava na sua cama, de olhos fechados e de pijama, e "de verdade" ninguém vai à escola desse jeito. Mas no seu sonho, ou seja, aquilo que as pessoas chamam "de mentira" ou "de faz-de-conta", o menino do sonho entrou na escola com camiseta preta e meias brancas. Mas o menino de "faz-de-conta", quando sentou na carteira não assistiu aula. Ele dormiu, e no seu sonho usava camiseta branca e meias pretas.

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