terça-feira, junho 01, 2004

Abstinência de vida. Maldito vício.
Dormindo. É o único jeito de escapar. Não de verdade, porque de verdade não se escapa. E eu já sei disto, faz tempo, por mais que relute. Quando se está dormindo apenas os sonhos atormentam. E os pesadelos. Mas não faz diferença, não dá mais pra dizer qual é qual. Não existe mais esta distinção nos mundos que me acolhem quando eu fecho os olhos pra fugir. Pra fugir de tudo e continuo aqui, esperando acordar. Não dá pra dormir pra sempre, e eu acordo. Uma, duas, dez vezes. Eu acordo pra sempre e vejo que nos meus sonhos tudo é ruim também. Tudo é ruim de qualquer jeito, e eu tento fazer de tudo pra não conseguir pensar em nada. Mas não pensar é impossível, não sentir é impossível. Faz parte de ser. E é por isto que eu não queria ser. Eu queria não ser. Só que eu sou e continuo sendo e mesmo nos meus sonhos eu sou, e sinto e penso. E tudo me arrasta de volta sempre pro mesmo lugar. Uma âncora me prende, mas o motor continua correndo. Tudo se esgota, tudo me esgota. Nada esgota os meus sonhos. As lágrimas são a prova de que estou vivo. Acho que as lágrimas são a única coisa que diferencia os sonhos da vida. Quando acabam os sonhos, vêm as lágrimas. Antes de começar os sonhos, tem as lágrimas. Elas secam, mas vêm outras. Não acabam.
Os sonhos sempre dependem de quem os cria. Se alguém não os sonhasse, não seriam sonhos, não seriam nada. Mas e se existisse um sonho sem ninguém para sonhá-lo? É a solidão mais triste, que um sonho tenha que correr atrás de seu sonhador. Isto não existe. Mas ainda assim chora.
Abstinência de verdade, crenças, esperanças. Malditos vícios. Um viciado faz de tudo para conseguir suas drogas. A vida é triste correndo atrás de vícios.

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